A Lei Seca e o direito de ir e vir



A Lei Seca e o direito de ir e vir

Josias Franklin Maciel

A nova lei que estabelece um controle mais rígido e uma fiscalização mais eficiente, com penas pesadas à motoristas que dirigem alcoolizados, põe um pé no freio importante no crescente número de alcoólatras do país, que hoje já atinge 12,3% da população. Num país onde metade das pessoas não põe sequer uma gota de álcool na boca, mas que um em cada dois cidadãos que bebem (25%) quando o fazem exageram, é um importante passo não só em relação ao incrível número de acidentes de trânsito no Brasil, onde metade deles são causados por pessoas alcoolizadas, gente de bem, na maioria das vezes, que pára de beber a hora que quiser, porém, como comprovam as tristes estatísticas, não dispensam as saideiras, parando sempre no próximo copo ou num poste.

Aliás, é interessante essa desculpa de cidadão de bem, para infringir a lei. Tenho ouvido diversas pessoas se queixando que a nova lei lhes cerceia a liberdade, que um copinho só não faz mal, que a polícia devia estar prendendo bandido ao invés de ficar prendendo pessoas de bem que exageraram um pouquinho... Será que aquelas muitas e muitas famílias que hoje não podem contar com um filho que morreu atropelado ou que ficou paralítico também pensam ser estas pessoas bêbadas ao volante, pessoas de bem? Será que estas mesmas pessoas de bem sabem que grande parte dos crimes de toda espécie como assassinatos, violências contra a mulher e criança são regadas à álcool?

Interessante ver que, num país onde 1 em cada 8 são dependentes químicos e 1 em cada 4 quando bebe passa da conta, ninguém diz ter um alcoolista na família. Tem pai e mãe que acha até bonito quando filho toma o primeiro porre como se fosse um batismo, entretanto as muitas e muitas pessoas que sofrem direta ou indiretamente com o alcoolismo, pois, um dependente costuma deixar toda a família ao seu redor doente, no que chamamos co-dependência, sabem o drama que é ter uma pessoa nesta situação em casa. Os amigos sorridentes do comercial de cerveja somem, a família se distancia, o emprego desaparece e os problemas se avolumam.

E muito se engana quem pensa que o alcoolismo é doença somente de pobre. Muitos e muitos são os casos nas classes mais favorecidas, proporcionalmente até maiores que nas classes mais baixas, como se estar bêbado com uísque fosse muito diferente de bêbado com cerveja ou cachaça.

Esta lei, mais do que diminuir sensivelmente os acidentes no trânsito, como o acontecido com o cinto de segurança e o lucro dos fabricantes de bebidas (já foi registrado nas últimas semanas queda de até 25% no volume de vendas) cria condições para que haja uma redução significativa no nível de consumo, que se traduzirá numa sociedade mais sadia e responsável, colocando a vida e o ser humano em primeiro lugar.

Um brinde (sem álcool) aos idealizadores desta lei e cana sem destilação aos infratores.

Josias Franklin Maciel
Presidente Comad (Conselho Municipal Antidrogas São José dos Campos)

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