Bienal de Livros ou Feira de Revistas encalhadas?



Bienal de Livros ou Feira de Revistas encalhadas?

*Franklin Maciel

Foi com muita expectativa que me dirigi ao Parque da Cidade de São José dos Campos na última sexta-feira (08/04) para acompanhar a abertura da 2ª Bienal de Livros de São José dos Campos, realizada quase 10 anos (pasmém!) depois da primeira, afinal, como escritor tinha muita esperança de que enfim, a atual administração municipal valorizasse essa arte fundamental para o desenvolvimento humano e cultural de uma sociedade.

Logo ao entrar no espaço, como todos os poucos presentes (em geral funcionários comissionados da prefeitura e expositores) para um evento de tamanho porte, divulgação e investimento, recebi uma réguinha com propaganda do vereador autor do projeto, fato que estranhei, pois estávamos dentro de um espaço público onde tal tipo de propaganda é proibida, mas como na atual São José segue-se a regra do: “Para os amigos tudo, para os demais, a lei”, continuei meu trajeto certo de que encontraria um evento digno de toda a expectativa gerada.

Na abertura da solenidade, logo após tomar consciência entre os pares da possibilidade de encerramento da atividades do Grupo de Folclore Piraquara, mantido pela FCCR, um dos mais tradicionais da região, emocionei-me com a qualidade do Coral Jovem da FCCR, regido por Sérgio Werneck (haverá algum parentesco com o Werneck do Procon candidato derrotado à vereador pelo PSDB em 2008?) com suas belas árias européias, mas estranhei o fato de, pela primeira vez ver um coral público não cantar músicas do repertório nacional, dando preferência ao repertório clássico europeu, fato que logo foi devidamente explicado no discurso do prefeito Eduardo Cury, para quem é uma “questão de honra” de sua administração que o cidadão comum tenha acesso à cultura clássica dos violinos, afinal na ótica das elites, cultura de verdade é aquela que vem da Europa, a que é produzida por aqui, provavelmente deve ser resquício de caipiras e índios, nada à se levar muito à sério. Aliás, pela forma xenofóbica com que a cidade vem sendo administrada nos últimos anos, tudo leva a crer que São José dos Campos é um cidade européia que, por um acidente geográfico, calhou de ficar no Brasil. Não sei anda como não sugeriram que a cidade trocasse seu nome para Saint Joseph dès Champs.

Entre um discurso e outro, onde a regra era a bajulação mútua, destacaram-se a justificativa para um Bienal que deve acontecer de 2 em 2 anos, levar quase 10 anos para ser reeditada: “-Pequenos probleminhas técnicos”, tradução política encontrada pelo vereador autor da lei para “Irregularidades na prestação de contas” ; a exaltação e surpresa por esta edição contar com os “Bate-papos com autores”, algo realmente “inédito” em eventos deste tipo (principalmente para aqueles como o vereador que nunca deve ter ido à uma Bienal de livros) e o número considerável de editoras prometido para a Bienal (algo em torno de 500) pelos secretários municipais envolvidos em suas falas.

Enfim, depois de muita falação e confete, abriram-se as portas da Bienal de Livros 2011 e, para grande espanto... ONDE ESTÃO AS 500 EDITORAS??? Tudo bem, exageraram... Talvez 50... Quem sabe 10! Não, nem 10 editoras estavam presentes à Badalada Bienal de São José dos Campos. O que vimos eram alguns estandes logo na entrada, provavelmente de permuta de livros feita por alguma livraria local junto à duas, três grandes editoras sem apresentar qualquer novidade, um ou outro estande de editoras católicas, um estande especial para vender livros em braile de um autora que, coincidências à parte, é esposa do advogado da FCCR e muitos, muitos estandes de venda de revistas velhas encalhadas nas bancas, vendidas pela metade do preço,provavelmente atraídas pelo fato da prefeitura ter distribuído vales-compras aos alunos da rede municipal de ensino no valor de R$15, por aluno, para aquisição de livros, o que talvez explique porque a maioria dos títulos eram múltiplos de R$5,00 (cada criança recebeu 3 vales de R$5,) e a venda ostensiva de brinquedos numa feira de livros.

Em suma, como diria o ilustríssimo vereador - “Probleminhas Técnicos”, talvez seja melhor para os amantes da literatura esperarem pela próxima Bienal, que em São José pode ocorrer daqui dois anos ou daqui à dez.

Franklin Maciel
Cientista Social, dramaturgo e Escritor

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