A Natureza dos milagres


A Natureza dos milagres


Caminhavam pela cidade o sábio Jeshuah e seu jovem discípulo refletindo sobre a natureza dos milagres. Explicava-lhe Jeshuah que o milagre está em tudo, pois tudo que existe é fruto da criação e do amor de Deus, mas o discípulo questionou-o, dizendo que, se o milagre está em tudo, como então são poucos os que o testemunham.

- A maioria das pessoas são cegas para tudo que não as convém.” disse-lhe Jeshuah e continuando a caminhada cruzaram com um cego que esmolava.

  • Por que esmola?” Perguntou Jeshuah ao cego.

  • Quis a má sorte que eu nascesse cego, meu senhor, de modo que, graças a este infortúnio não posso trabalhar. Respondeu-lhe o cego.

  • E gostaria de enxergar?

  • Todos dias rogo esse milagre a Deus, meu senhor.

  • Pois, abra o seus olhos e veja! Disse-lhe Jeshuah passando suas mãos por seus olhos.

O cego então abriu seus olhos e, maravilhado, voltou a enxergar. E saiu pelas ruas gritando para todos testemunhassem a graça que havia recebido.


O discípulo não se contendo por ter testemunhado a euforia do homem frente a graça recebida, disse à Jeshuah: - É disso que falo mestre! Se todos tivessem a oportunidade de testemunhar o milagre de Deus de forma tão real em suas vidas como este cego que voltou a enxergar, não mais duvidariam e voltariam suas vidas para Deus.

  • Apressa-se demais em julgar o caráter dos homens meu jovem amigo! Continuemos nossa jornada e voltemos daqui um mês para essa cidade e vejamos o que de fato mudou em suas vidas diante de um milagre tão explícito.


E assim, um mês depois, voltaram Jeshuah e seu discípulo à cidade.

Aparentemente nada de significante havia acontecido. A vida seguia seu ritmo de sempre pelas ruas, pelo comércio e, para espanto do discípulo, viu ao longe o mesmo cego que recebera a cura novamente pelas ruas a esmolar.


E correndo até ele, incrédulo do que via, foi questionar junto ao cego, se não era ele aquele que há um mês atrás havia recebido a graça de voltar a enxergar, ao que respondeu-lhe o cego:

  • Maldito esse negro dia meu jovem! Aproveitando da minha boa fé, um velho bruxo veio ter comigo e abusando da minha ignorância, usou sua negra magia me fazendo voltar a enxergar.

  • Sai então pelas ruas emocionado pela falsa graça recebida sem dar por mim o tamanho da minha desgraça.

  • Passada a euforia, tive fome, mas quando fui buscar nos bolsos não tinha nada. Pedi então às pessoas que passavam que me dessem um pouco de dinheiro ou comida, mas ninguém mais dava, alegando que eu era forte e enxergava e que devia trabalhar pelo meu sustento.

  • Busquei então trabalho e não encontrava e quando encontrei era pesado, ficava exausto ao fim do dia por quase nada.

  • Desesperado pela condição em que me encontrava, pronto a dar cabo de minha vida, eis que por milagre vi ao meu lado uma roseira e, pegando um de seus espinhos, furei os meus dois olhos, e assim, pude voltar a minha boa e velha vida.

  • Diante do que passei, previno-lhe: Cuidado com esses charlatões e falsos profetas, são crias do diabo que vivem pelo mundo para estragar com sua magia negra o destino que Deus escolheu para cada um.


Cabisbaixo o discípulo voltou até o mestre que, vendo seu estado de desânimo, lhe falou:

  • Não fique triste meu amigo, assim são a maioria dos homens, veem milagre num espinho que lhes cega e renegam a luz que lhes abre os olhos.


E pelo mundo saíram amparados pelas mãos de Deus.


Frank Maciel


In “O Encantador de Histórias” 2010



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