A criança está morta
A criança está morta
A criança está morta, já não há por que rezar
e como não estar, se antes de nascida já vinha amputada?
Não correrá aos nossos braços, não cairá tombos de bicicleta
Não nos acordará em meio à noite com seu choro
Nem brincará de carrinho ou de boneca
Nem nos chamará de mamãe e papai
A criança está morta, pra sempre morta
Mesmo que em cada sonho com ela brinque de ciranda
Mesmo que ainda a veja tatuada pelas ruas no olhar de cada criança
e que esteja abraçada para sempre à minha alma
Mas a criança está morta
Seus olhinhos nunca verão a luz
Suas mãozinhas nunca trocarão carinhos com a mãe
Nem descobrirão o mundo
Não terá colo, não irá à escola
Não fará amizades, não crescerá,
Não será homem nem mulher
Nem conhecerá o primeiro amor
Mas, um dia, mesmo sem ter nascido
Eu a vi brincando
Sorriu pra mim e me deu uma flor
Peguei-a nos braços, rodopiei-a
e juntos, vimos o mundo inteiro girar à nossa volta
E nesse dia, eu soube que ela sempre estaria viva
Mesmo que o mundo inteiro dela nunca tivesse conhecimento
e sua mãe nunca lhe abrisse a porta
Frank Maciel
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