A Menina detrás da cortina


A Menina detrás da cortina


A menina escondeu-se da vida detrás das cortinas.

Vejo seus pés, sinto seu cheiro, o tremor sutil no tecido provocado por sua respiração ofegante, a sua silhueta...

Sei que está ali, sempre soube onde está escondida, mas por que roubar-lhe o logro que impõe à si mesma, pensando que me engana, quando apenas engana à si mesma?


Ali, naquele espaço apertado, deixa de viver, mal pode respirar, só pelo capricho infantil de tentar me deixar preocupado e nem vê que o tempo passa e a brincadeira perdeu a graça, que a menina vai ganhando formas de mulher apesar de não amadurecer em sentimentos.


O Sol acorda todo dia e com um beijo e abraço iluminados vem tentar lhe resgatar, mas ela lhe volta as costas, e assim a luz e o calor apenas a castigam, deixando ainda mais nítida, deste lado de cá da cortina, a sua silhueta que vai ganhando formas arredondadas, oblíquas, perdendo todo encanto e beleza.


E ela ali, sempre ali, estática, reprimindo cada movimento sem se dar conta que seus pés por baixo das cortinas sempre denunciaram sua presença e que se ainda ninguém a delatou, é porque não faz mais diferença.


Todos há muito se foram viver suas vidas, ninguém mais a procura, ninguém mais quer lhe encontrar.

O perigo que inventou só mora na sua cabeça, o amor se foi, só ela ainda está lá, apesar de mal se lembrar do real porque de ter ido parar por lá.


Dei uma volta pela casa depois de cruzar o mundo e ela ainda está lá, uma sombra na janela impedindo o sol de dourar as cortinas, uma vida esquecida de viver para ser pó de lembranças sofridas, uma beleza que se foi por obra do rancor e da teimosia.


Penso às vezes em abrir as cortinas e revelar que a sabia ali, mas tenho medo que a luz a cegue de vez.


Ali, detrás daquela cortina, deixou o amor morrer, deixou os sonhos de menina para envelhecer, comeu poeira de ilusão e apagou-se deixando de ser estrela para ser escuridão.


(Frank Maciel)



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