Os Camelôs, o Aumento da Criminalidade e o Tráfico de Drogas

Os Camelôs, o Aumento da Criminalidade e o Tráfico de Drogas

*Franklin Maciel

Há tempos venho batendo na tecla sobre a urgência de um novo projeto político para o país, estados e municípios que contemple ações coletivas que garantam inserção e acesso à renda e aos bens sociais e culturais a todas as classes sociais, de maneira à gradualmente relativizar essas diferenças, única maneira segura e concreta de se estabelecer uma sociedade justa e perfeita, sendo, muitas vezes rotulado equivocadamente nos bastidores de esquerdista ou petista (não sou nem um nem outro) quando na verdade, essas mudanças nada mais são do que uma questão de sobrevivência neste momento histórico à beira do colapso civil.

Continuamos insistindo na defesa de um modelo econômico e de sociedade que já se esgotou e cuja reprodução sistemática, ao contrário de produzir soluções, tem provocado cada vez mais caos, problemas e desordem, agravando ainda mais a situação. Agimos como alguém que no passado tomou um gole d'água para matar a sede, mas agora, toda vez que a situação aperta só sabe tomar mais e mais água e nem percebeu que esse excesso vai acabar matando-o afogado.

Ontem foram divulgados pela polícia novos dados que demonstram um novo aumento vertiginoso da violência neste ano de 2009 em comparação com 2008, que já foi maior que 2007 e este aos anos anteriores respectivamente.

E qual a resposta para a solução deste problema? A mesma de sempre! Coloca-se a culpa no tráfico de drogas e aumenta-se a repressão policial sobre o cidadão. Mas se essa solução mágica não resolveu nos anos anteriores, ao contrário, a análise dos dados demonstra que a situação piorou, por que então vamos repetir aquilo que estamos carecas de saber que não funciona? Porque a intenção não é resolver ou encarar o verdadeiro problema, é mostrar que se esta fazendo alguma coisa, como um cachorro que corre atrás do próprio rabo.

Ações de repressão e combate ao tráfico não vão resolver absolutamente nada e isso se explica através de um jargão do meio policial conhecido como efeito bexiga: Ao se espremer de um lado, o crime se desloca para o outro, igual acontece ao se pressionar o ar de uma bexiga nas mãos, ele não desaparece, só se concentra noutro lugar. Assim, o traficante vira assaltante, sequestrador, assassino, mas a criminalidade não acaba, só muda de modalidade, ou alguém aqui imagina que um traficante vai arranjar um emprego formal só porque não consegue traficar?

A realidade que pouca gente está disposta a aceitar é que o aumento da criminalidade assim como contravenções é reflexo direto do desemprego estrutural, falta de políticas sociais abrangentes e da precarização do trabalho. Condições sine qua non de funcionamento da sociedade capitalista na qual escolhemos ou aceitamos viver.

Um modelo que nos ilude com a fictícia idéia de acesso á bens materiais fúteis, desnecessários e descartáveis vendidos sob uma aura de “liberdade e poder”, mas que nos escraviza a todos, sem exceção, a créditos e dívidas junto ao mercado financeiro que de fato dita as regras e determina o poder.

Assim, aquele que produz ganha menos que o que especula e, para tentar equilibrar a situação, se endivida junto ao especulador (santa ironia) adquirindo novas tecnologias utilizadas para aumentar a produção e dispensar mão de obra, na luta tosca e autofágica, de vender produtos cada vez mais baratos do que realmente custariam ou valem a fim de se manterem competitivos.

Outra situação absurda desse processo é que, em virtude das dívidas e compromissos assumidos, o produtor é obrigado a produzir um volume cada vez maior do que a capacidade de absorção, assim como priorizar produtos descartáveis, de baixa durabilidade para poder vender mais e mais produtos para uma mesma pessoa durante um período (ex; celulares) tornando o produto da linha anterior lixo, outro gravíssimo problema que está colocando a vida de todo o planeta em xeque, vez que interrompe o ciclo da vida.

Aquele que ficou sem emprego por conta deste processo (os empregos perdidos em função da tecnologia nunca mais voltam) vai ter de aprender a se virar para sobreviver, muitas vezes revendendo de forma precária e irregular produtos contrabandeados, cujos custos sociais inerentes ao produto (encargos trabalhistas, reposição de matéria-prima, direitos autorais, impostos) são praticamente todos suprimidos, barateando ainda mais o valor real do produto e, ironicamente, este desempregado que virou camelô, contribui para que mais gente fique desempregada, gerando um ciclo vicioso, na busca de reinserção através de trabalho precarizado a fim de garantias mínimas de sobrevivência.

O problema é que mesmo essas formas precarizadas de serviço que indiretamente quebram a indústria e o comércio (levando-os também a esta vala comum do desemprego), não conseguem absorver o volume diário de novos desempregados gerados por esse sistema e assim, essas pessoas, são garantias sociais, sem acesso a qualquer fonte de renda, nem mesmo através de bicos, acabam caindo na marginalidade.

Durante os três anos em que fui presidente do Conselho Antidrogas dessa cidade, pesquisei, palestrei, percorri e ouvi gente de todos os cantos da cidade, estive em lugares onde até a polícia tinha medo de entrar e a partir do que constatei posso lhes garantir: Ninguém vira traficante porque acha bonito, ninguém quer seguir carreira no crime, é a falta de opção, a falta de espaço para todos no mercado de trabalho que empurra essas pessoas para a vida do crime.

Se tivesse a oportunidade de trabalhar numa sala com ar condicionado, com boa renda mensal (lembro isso porque tem muita gente que acha que salário mínimo resolve a vida dos outros, mas se equilibra para pagar as contas com orçamento bem maior) duvido que prefiram estar numa biqueira até altas horas da madrugada sem saber se volta vivo ou morto para casa.

Então quem leva vantagem nisso?

Um grupo muito pequeno e restrito do qual nenhum de nós participa (apesar de muita gente bater no peito achando que é o cara). Um grupo que controla os recursos do planeta de maneira privada ilude a classe média com delírios de grandeza e ascensão que nunca se concretizam de fato e impõe aos mais pobres condições mínimas e desumanas de sobrevivência e exploração, inclusive com pena de morte aos que não aderem (alguém ainda duvida que exista pena de morte no Brasil? Só na nossa região esse ano já foram registrados 259 homicídios oficiais, mais que em todo Oriente Médio que vive sob conflito de guerra)

Ai fica o nosso dilema enquanto homens e mulheres livres e cidadãos:

Vamos continuar compactuando (se omitir é uma forma de fazer parte) com essa tirania ruim para todos ou vamos lutar e estabelecer uma nova ordem no mundo?

Vamos utilizar a tecnologia a favor da humanidade, diminuindo o trabalho mecânico de todos e ampliando as possibilidades a todos de trabalhar na própria evolução e evolução da humanidade, ou vamos continuar usando a tecnologia para oprimir e excluir as pessoas condicionando- as cada vez mais a relações escravas de trabalho?

Vamos rever nossa atual produção e consumo descabidos e desnecessários que vai acabar transformando toda a matéria-prima do planeta em lixo e nos assando através do aquecimento global ou vamos procurar um novo meio de produzir, sustentável, racional, orientada a produtos necessários e duráveis com valor condizente aos seus custos de produção?

Vamos insistir nessa sociedade de classes, hierarquizada pela posse de bens materiais ou vamos construir uma nova sociedade onde homens e mulheres se distinguem pelo que são e não pelo que trazem nos bolsos?

Esses são os dilemas reais da humanidade atual, esse é o dilema do nosso tempo. Podemos tomar uma atitude e fazer o que é certo ou passar a vida toda tentando corrigir um erro com outro erro.

Franklin Maciel

Cientista Social


Comentários

Parabéns Franklin!

Tenho visitado seu blog e lido seus artigos e demais postagens constantemente, já está no meu favoritos!

Continue assim!