O Quarto Macaco
O Quarto Macaco e as Audiências Públicas em SJC
Franklin Maciel
A maioria das pessoas conhece a imagem dos três macacos: um que de faz surdo, outro de mudo e outro de cego, símbolos da falta de comunicação. Nesses novos tempos, ouso acrescentar um quarto macaco ao cenário: O macaco que não toca. Este macaco, eternamente abraçado à si mesmo, representa o individualismo, a dificuldade de socialização, o medo e negação do outro e do futuro, o sentimento de que estamos sozinhos e de que não podemos contar com ninguém.
O homem por sua natureza e necessidades é um ser interdependente e social; não nasceu para viver sozinho, não sabe viver sozinho e, em seu íntimo, não quer viver sozinho. (o indiscutível sucesso das redes sociais como Orkut e Twitter são provas incontestes disso)
O que faz então o homem abrir mão dessa necessidade tão forte de socialização para se tornar cada vez mais egoísta, individualista e mesquinho? Boa parte da resposta está nas constantes políticas de Estado que visam desarticular a capacidade de socialização e mobilização da população com o objetivo de enfraquecer-lhes a representatividade e poder de pressão, facilitando a imposição de seus interesses privados travestidos como de interesse público, em suma, a velha política romana de guerra do Dividir e Conquistar, ou seja, com a população desmobilizada e dividida, vencem os argumentos do Estado e dos que o influenciam.
As audiências públicas sobre a Lei de Zoneamento em São José dos Campos, convocadas depois de muita protelação são um exemplo disso. No edital de convocação, há uma cláusula que impede manifestações públicas coletivas, sob a esfarrapada desculpa de prevenir tumultos e confusões, entretanto, o que se oculta nessa pretensa “manutenção da ordem” é a clara intenção de impedir a mobilização dos indivíduos a partir da identificação de interesses e pensamentos comuns, ou seja, impedir que aquele possível descontentamento de um tome a forma de descontentamento de todos, colidindo assim com os interesses dos agentes políticos do Estado.
A divisão do cronograma das audiências é outro grande exemplo: Enquanto a Prefeitura disporá de uma hora e meia sem interrupções para expor seus argumentos sobre a nova Lei de Zoneamento, criando unidade em seu discurso, a população terá de se contentar com as duas horas restantes para se manifestar fragmentadas em participações individuais de três minutos por pessoa, provavelmente entremeadas por interlocutores do governo disfarçados como população na defesa dos interesses anteriormente expostos, assim como abusando do período dedicado à respostas de possíveis questionamentos. Desta maneira, o discurso oficial se sobrepõe em tempo e unidade de discurso sobre a manifestação popular intencionalmente desarticulada, impondo suas vontades e interesses e fortalecendo sobre o cidadão o sentimento de impotência frente a sua contribuição e participação política, resultando por fim na sua desistência e, como o quarto macaco, voltando-se para o atendimento exclusivo de seus interesses domésticos.
Se desejamos uma democracia de fato, precisamos desatar os braços desse macaco, destapar a boca do mudo, os ouvidos do suro e os olhos do cego e resistir, lutar de mãos dadas pelos direitos e garantias que só se conquistam com a adesão de muitos. Só assim derrubaremos essa tirania disfarçada de democracia e construiremos um mundo de paz, justiça social, com emprego, dignidade e qualidade de vida para todos.
Este macaco descruzou seus braços, descruze os seus também e de mãos dados vamos à luta.
Josias Franklin Maciel
Cientista Social
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