D-existir

D-existir


Havia pedras, muitas pedras

cada vez mais pedras

Até que se fez um muro... E outro e outro...


Havia o silêncio, caras amarradas

portas fechadas, calúnias, indiferença

E, à distância de um palmo, tudo estava

Mas não se viu mais nada


Havia sementes... Que foram plantadas

Mas os brotos que delas nasciam

Eram arrancados de noite

enquanto dormia exausto ao lado da enxada


No dia seguinte insistia

E tudo de novo plantava

Mas a terra violentada por tantos abortos noturnos

Desolada, não paria mais nada


E houve fome... Muita fome

Fome de tudo

Uma fome que foi devorando tudo

Depois da carne foi levando o espírito

Primeiro as risadas, depois os sorrisos

A vontade, o ímpeto

Por fim a Esperança


E quedou exausto


Ao levantar, não viu o sol que nascia tímido lá longe

E com uma gravata, foi se enforcar


Mas a gravata, sedutora e ardilosa, no lugar de enforcá-lo

Enlaçou-se em seu pescoço como uma prostituta manhosa

E, pela primeira vez em tempos, sentiu qualquer coisa mais próxima

de ser amado, querido, desejado


Agora domesticado, dócil, faz tudo que seu dono mandar.


Franklin Maciel



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