Manifesto Abismo


Manifesto Abismo
* Franklin Maciel

Cada passo dado é um passo no nada e, em muitos nadas, se chega á meias verdades;

Penetrar o abismo não é uma aventura, sim um ato de entrega;

Não há regras, além daquelas que o próprio íntimo anseia;

Inferno e céu são duas caveiras que cobrimos com nossa argila, dando formas á novos monstros formidáveis;

Nossos beijos são mordidas e bicadas de aves de rapina, cheirando à sexo e vermelho sempre-vivo (Eros e Thanatos);

Aquele que puder ousar que ouse;

Viver é uma brincadeira de criança;

Morrer é uma brincadeira de criança;

Que se afundem todas as religiões e se faça o religare!!!

Deuses e demônios, homens, feras e bestas que se fundam num movimento de incertezas;

O amor é nossa fonte e a dor nossa miséria;

Nossa culpa é cultuar a culpa; abaixo a culpa e os desejos comedidos!!!

Quando a fé nos vira as costas, a luz nos brinda a face;

Que os nosso pássaros cantem o mundo que em nós começa, sendo nós mesmos;

O nosso olho é um pedaço do infinito e não queremos nada;

O meu amor e o teu amor se cristalizam num só gesto, se fodem num incesto e se unificam no novo sexo (androginia) ;

Vendamos a alma que não temos e voemos pela nona esfera;

Os nossos corpos são as estrelas que mais brilham;

Os nossos céus os mais imensos, tão imensos que nos perdemos;

Os canhões anunciam nossa morte num berço sem testemunhas;

Na solidão nos encontramos;

Nos abismo enxergamos os fragmentos do ser;

Àquele que procura, nossa mão alcança brinca de ciranda;

Brincar é preciso;

Nada mais é preciso;

Quando se é ninguém, tudo é permitido;

Como lobos urinam para marcar seu território, mijamos nas cabeças para semear a vida nova;

Foder é nossa bandeira;

Gozar o nosso néctar!

A nudez é sempre bem vinda, pois o pecado não mora em nós;

Dias que queremos morrer;

Noites em que somos eternos;

E nada basta, e tudo bosta!

Batalhas., besouros, tesouros e incoerências

E um gemido de prazer no escurinho do cinema ou em qualquer cena em que a vida nos soe agradável e será...

E é!

Pois somos incríveis

Somos nos,

Os que saltam o abismo

Sem morte ou vida

Sem esperanças ou arrependimentos

Sem coração ou alma,

Só um contentamento arrebatadamente

Feliz
Essência...
Essênia
Esse
Essa;

O homem do nosso tempo morre com nosso tempo;
Celebremos o homem universal!!!

Somos o ontem, o hoje e o porvir...

A eternidade, o real
Sobre o perecível, artificial;

Existindo e sendo
Sendo e existindo
Numa irmandade real entre todas as coisas;

A cada novo passo, um novo risco e uma nova expectativa;

Minerva norteia nosso caminho
Shiva, com suas serpentes e braços
Dança no firmamento, gerando novas estrelas em meio ao caos do qual somos frutos,
ao som suave de Vishnu e Pã num dueto divino de flautas;

O grito hoje dado ecoa para sempre em todo o universo,
em novas dimensões, sublimes dimensões,
reverberando em sonoras ondas genéticas
Contagiando cada ser, cada coração humano ou não
numa grade cadeia de transformações visando a transcendência;

Angústias e náuseas antecedem o grão caminho;

Os novos filhos nascerão mais belos
Os próximos dias mais coloridos
Os sorrisos bem mais felizes

A nova estética preserva o ser pleno,a cima de qualquer meta obscura ou vaidade
E ter não passa de vã quimera;

Num quarto escuros somos todos iguais,
Crianças almejando o voo
Acolhidas no êxtase flamígero da mãe;

Acreditar em si mesmo é o último passo,
O Fiel da balança.

A diferença entre o fio da espada e a sublimação;

Diante do profundo abismo imanente à cada um,
Saltar ou não saltar?
Ser ou não ser?
Existir ou não existir?

Em meio à massa disforme e eternamente imutável, girando indefinidamente,
sem cor ou aroma
ser a lenta e mórbida lagarta
Ou ousar o céu nas asas alquímicas da borboleta?

É fechar os olhos pra ver
É abrir o espírito pra sentir

Franklin Maciel

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