Contágio (a gripe suína)
Contágio
Cada morte a conta gotas da gripe
É outdoor, acontecimento, histeria celebrada
em todos os jornais
Tudo metodicamente planejado
Porque temos de ter medo
Porque temos de ser mansos
E trabalhar para fazer e pagar mais dívidas
Porque não podemos sair do esquema
Tomo meu café na padaria
O gordo breakfeast norte-americano
Entupindo minhas artérias tupiniquins
de colesterol e tristeza mórbida
João ninguém, o andarilho, e seu cachorro
Acompanham na torcida cada mordida
Esperando as sobras da minha morte diária
para esconder da fome
Dia sim, dia não, morre um amigo de João
Uns de fome, outros de frio, muitos pela polícia
Todos pela exclusão
O cachorro preto de João logo morrerá também
De fome ou atropelado por este mundo cão
Nenhuma das mortes dos amigos de João saiu ou sairá na televisão
Nenhum morrerá de gripe suína
Os porcos que os mataram são outros e usam gravatas
Os porcos que os mantém mortos ainda vivos
Usam gravatas
Nos aeroportos todos já usam máscaras para se proteger da gripe
Pelas ruas, alguns já aderiram à moda
O tato saiu de moda, agora a moda é o isolamento
E assim, os beijos forma banidos da história
Porque o Amor contagia
Franklin Maciel
Comentários