O jardim secreto
O jardim secreto
A primeira vez que pisei em seu jardim secreto
Era inverno
Fazia um frio de doer
Havia uns poucos ramos secos, aqui e acolá
Esparramados por uma paisagem desolada e triste
Foi quando a vi pela primeira vez
Abraçada à uns pequenos ramos amarelecidos
Na esperança de manter-lhes a vida com seu calor
Compadecido, resolvi me aproximar
Os seus olhos vivos de bicho assustado
pelas agruras da vida
Traziam tanta ternura
Que em mim brotou um apelo irresistível pra ficar
E ali fiquei,
E o seu jardim, ajudei à restaurar
Eis que chega a primavera
A vida que o inverno pareceu levar
Ressurgia por todos os cantos
E o jardim secreto cobriu-se de encantos
E ali a amei
Enfim chegou o verão
E a primavera deu seus frutos
O jardim tornou-se a reedificação do jardim das delícias
O paraíso por Deus criado
Onde fui o primeiro homem e ela a primeira mulher
Unidos pelo amor e pelas bençãos do Criador
Algumas folhas começaram a cair, chegara o outono
Porque o mundo é cíclico, e tudo que vai, volta
Entretanto,
A experiência da vitória e do amor
Que o tempo solidifica e amadurece
Para enfrentar as horas difíceis
A alguns não basta
Pois a lembrança das dores do passado
Pouco à pouco reascendem, obscurecendo-lhes a visão
E esquecessem a glória, a confiança recém conquistada
e a certeza na vitória do amor e da justiça
E tudo volta à ser triste...
Então o inverno vem e faz seu estrago
Pra que tudo depois se renove
Até que aprendamos a lição
E o inverno veio
O amado não era mais reconhecido
Aos poucos até por inimigo foi tomado
E sem qualquer cerimônias foi expulso
Do jardim que havia pra ela recriado
Triste, sozinho, desolado
Desceu aos infernos para vencer o diabo
Trazendo de volta ao mundo a primavera
Como portador da luz que bane as trevas
E restitui a verdade aos corações magoados
O caminho pelo inferno é duro e árduo..
Seus pés racharam, seu coração rachou
E ao rachar, foi pingando pelo chão
o amor que trazia em seu coração
As terras infernais, inférteis e áridas
Desacostumadas à qualquer emoção
Quando pelo amor tocadas
Foram, como num passe de mágica
Cobrindo-se de flores
Que foram se espalhando por todos os cantos
Trazendo vida àquela paisagem morta
O amor foi tomando conta de tudo
O que deixou o diabo preocupado
Mandando que encontrassem o culpado
e o trouxessem imediatamente à sua presença
Lá chegando, o diabo enfurecido
Ameaçou-o, seduziu-o, tentou comprá-lo
Por três vezes foi tentado
Mas resoluto, resistiu
O diabo já desesperado, vendo seu inferno
Por amor sendo tomado
Esbrajava e espumava pra todo lado
O que acabou por despertar do sono
Sua esposa raptada
Que, aconselhou-o a dar ao homem a luz roubada
Pois já era hora da luz voltar à terra
Caso não quisesse que a luz e o amor
Consumissem o próprio inferno
Contrariado, o diabo então deu ao homem
A luz, por ele, do céu roubada
Afim de que curasse das trevas invernais o mundo
Levando de volta a primavera
E o amor ao coração do ser amado
Então o homem voltou do inferno
Trazendo consigo a luz e a primavera
Por onde passava, espalhava com cuidado
A luz para que a vida de novo florescesse
Até que enfim chegou ao jardim secreto
Qual não foi sua surpresa ao perceber
Que por lá tudo estava mudado
O belo jardim fora suplantado
Por flores artificiais e pássaros empalhados
O perfume já não pairava mais no ar
Os beija-flores e abelhas, coitados
Voavam desorientados pelo logro de não encontrar néctar nas flores
A vida que daquele jardim pulsava desapareceu
Não havia amores
Só cores mortas que por serem plásticas nunca iam murchar
Foi quando à viu queita num canto
Seu rosto que era o sol, estava apagado
E por seus lábios onde o verbo e o amor outrora nasciam
Havia pintado um sorriso forçado
Disfarçando uma felicidade que não volta mais
Quando o homem mostrou-lhe a luz
Não aconteceu nada
Estava seca e preferiu voltar-se às mágoas
Ao mundo novo que criara
Um mundo que imitava o outro
Mas era morto, como uma paisagem pintada
Foi então que o homem entendeu
Que por mais que sejam boas, belas, capazes e amadas
Algumas pessoas simplesmente se acovardam, se rendem, desistem
Algumas pessoas preferem ser vítimas, tristes, coitadas
Incapazes de perdoar, abrem mão
Da grande jornada da vida que é amar
Então se conformam com flores de plásticos
Com sorrisos forçados, com amores comerciais
Com a vida que outros lhe escolheram
E entendeu
Qeu a jornada em busca da cura
Não era para o jardim ou para ela
Era para ele
O amor e a luz o haviam libertado
E livre pôde enfim construir o seu jardim
Onde viverá feliz para sempre
Com seu verdadeiro amor
Franklin Maciel
Comentários
preciso arrumar meu gravador...abraços ...homem -luz ou Lucifer?
Augusta