Tarde Demais
Tarde demais
Ainda que nunca me ame
Eu sempre amei você
Mesmo que em tudo tenhamos falhado
E que eu não acredite numa só palavra ou ato
Que partam de você
Eu sempre amei você
Que tudo tenha sido um desperdício
Que nossa vida tenha sido vã
E a esperança morra um pouco à cada dia
E a dor impeça o levantar dos meus olhos
Eu sempre amei você
Despeço-me de minhas forças
Que razão há na luta?
Sou fantasma petrificado ante o lago
Onde vi sua imagem pela vez primeira
E agora foi tomado pelo lodo e gotas de sangue
E a lembrança vai se apagando na memória
Como um prado que deu lugar à paisagem urbana
E do nosso mundo sobre nada e mesmo nesse nada
Eu sempre amei você
Talvez os budistas estejam certos
E neste mundo nada, nada mesmo, seja perene
Tudo passa, tudo tem um começo e um fim
Seu amanhecer e seu ocaso
As flores mais belas murcharão
As lagartas virarão borboletas
E, um dia, suas asas serão pó
Dando seu vôo derradeiro numa brisa boa
E o meu amor fica
À parte qualquer lei ou regra
Indiferente à vida ou à morte
E há de se manter fiel até o último instante
Mesmo sendo tarde demais
E a eternidade escreva-me uma nova história
Franklin Maciel
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