Te amo porque te amo

Te amo porque te amo

*Franklin Maciel

Você deve me achar um mentiroso

Por te amar sem que ao menos te conheça

Afinal, você percorreu tantas estradas

Leu todos os mapas, seguiu todas as dicas,

testou todas as simpatias

Realizou tantos sacrifícios

Acendeu velas pra Deus e pro diabo

Na esperança que o amor batesse à sua porta

Sem grandes sucessos

E de repente, feito um passe de mágica

Aparece alguém do nada

Sem imposições, condições, cobranças,

E te ama sem qualquer dificuldade

Sem perguntas ou respostas

De coração e braços abertos inteiramente à você

Sem quaisquer desconfianças ou contratos

Aceita-te como é, pelo que é

Com suas qualidades e defeitos

Porque é isso que te faz único (a)

Porque o que importa é você aqui presente

Seu nome, seu emprego, suas posses, suas roupas,

Seus círculos de influência, seu currículo

Sua religião, suas posições

Enfim, todos os rótulos, carimbos, malas e cuias

Deixo-os de lado

Por que te amo para além de todas essas convenções

Que vem e passam como as águas dum rio

À mim importa você, só você

Independente de raça, cor, juízo, status, qualquer coisa

Porque é você que me inspira e não todos estes penduricalhos

Que vamos acumulando pela vida

Sei que parece loucura, confesso

Mas nem todas as coisas carecem de razão ou sentido

As coisas mais significantes da vida apenas acontecem

Te amo porque te amo e isso me basta

Não gasto o meu tempo procurando o que me prove do contrário

Amar você me faz muito bem

Faz com que o meu dia não seja um dia qualquer

E que as minhas noites sempre possuam estrelas novas

Ainda ontem bati à sua porta e você não abriu

Pelo olho mágico (que de mágico não tem nada

Porque separa, porque divide)

Você olhou! Você não viu...

Sentei então à soleira da tua porta

Até que ela se abrisse

Faça chuva, faça sol, de lá não arredo pé

Porque vim decidido à te encontrar de qualquer jeito

Não adianta se esconder de mim com suas desculpas esfarrapadas

Não adianta lançar pedras

Não adianta fingir que não se importa

É chegada a hora de nos vermos face a face

Hora de aceitar a verdade há tanto tempo calada na garganta

Hora do amor guardado no mais nobre lugar do peito

Quantas areias já deitamos na ampulheta?

Quanto já desperdiçamos com fugas desnecessárias?

Cegos, surdos e mudos por tempo demais...

Nossos filhos nasceram e os afogamos na banheira

Antes que seu choro ou sorriso nos comovessem

Tínhamos medo, muito medo...

Mas agora chega!

Cuspiram em nossa cara e nos acreditamos feios

E pra fugir da dor

Nos pintamos com as cores do retrato que nos foi imposto

Quando enfim erguemos os olhos

O que vimos foi um rosto mudado, desfigurado, insípido

Uma máscara grudada à cara

Indiferente e distante

Fria e envernizada..

Mas os olhos, por mais que apagados, ainda eram os mesmos

Eu te amo, porque eu sei o que há no fundo dos seus olhos

Neles há tanta integridade, tanto sonho, tanto amor

A máscara, que importa a máscara?

Elas sempre caem hora ou outra

Mas os seus olhos com suas meninas radiantes

Com esses brinquei na roda gigante

Comi algodão doce, fiz confidências, dei cambalhotas

Ri e chorei e

Voltei à ser criança

E pra essa criança, não preciso explicações

Ela entende que amor é amor

Natural como um dia que sempre nasce todo dia

Tal milagre ao qual nos acostumamos

E por ser cotidiano não damos bola

Nascemos nus e um belo dia, alguém teve a idéia de nos vestir

Provavelmente o mesmo alguém, que tempos depois

Cercou um pedaço de terra e disse que era o dono e a gente acreditou

Com o tempo, começamos à dar mais valor pra roupas que nos vestiam

Que à nossa própria pele

E passamos a nos dividir entre os que tinham roupas e os que não tinham

Não demorou muito, ter roupas tornou-se mais importante que ter corpo

Então todos passaram a querer ter mais e mais roupas

E as pessoas passaram a desejar mais roupas e confundiram esse desejo

Com o amor antigo que nutriam umas às outras antes que dessem por elas

Assim, o amor passou à imagem, ao ter, ao parecer

Como todos queriam ser amados

Passaram à fazer qualquer coisa para ter mais e mais roupas, ornamentos

Mesmo que pra isso, precisassem deixar muitos nus ao seu redor

Os que ficaram nus porque lhes foram furtadas as roupas

Passaram à sofrer com as intempéries do tempo

Pois o uso contínuo de roupas fez com que perdessem gradualmente

A linda pelagem que protegia-lhes a pele

Hoje o que somos, pouco faz diferença

Importa o título, a parecência, a posse

Mas como um peixe que enfrenta a correnteza

Dando a vida pra que sua espécie não pereça

Com o que sou, que é tudo que tenho

Vou ao teu encontro e me entrego inteiro à você neste momento

Porque te amo desde que o mundo é mundo

Bem antes e para além de todas as coisas

E a sua espera ainda estarei quando as cortinas todas se fecharem

Cobrindo-te com um salva de palmas

Porque o meu amor é assim mesmo

Uma celebração sempre presente à você.

Franklin Maciel

Comentários

O bEM viVER disse…
Olá, Franklin.

Parabéns pela poesia. E pela entrega feita nas palavras, que dançam em música, nas linhas de seu pensamento.

Lena