Nas asas Liberais da Embraer


Nas asas Liberais da Embraer
Franklin Maciel

Eram 4.270 homens e mulheres
para quem o carnaval é
Quarta-feira de lágrimas

4.270 cidadãos
cujos sonhos iam nas asas do avião
e agora o olhar perdido
é trem de pouso sem chão

Eram um em cada cinco
Como os dedos de uma mão
Mãos compostas de dedos poucos solidários
Que preferem seguir a marcha, sempre em frente
Secos como um soco
Aos apelos dos amputados

Mãos que tinham cinco dedos
Agora tem quatro
E que logo serão três
Pois são mãos sempre à obra
Mãos que não param
Mãos sempre à disposição
Dos caprichos e interesses do patrão

Mãos medrosas e indiferentes
que se enfeitam de anéis
Mas esquecem dos dedos
Partes mais frágeis e descartáveis
Indispensáveis ao trabalho
Sem os quais a mão não é mão
É toco
Mas os dedos não se enxergam
Não se cruzam, não se unem, não se entrelaçam
Não dizem Não!

E por isso a mão continua a tratá-los como dispensáveis
Mesmo que ainda seja o dedo quem aperta o botão
e faz tudo parar de repente

Os dedos infelizmente só sabem seguir em frente
Como bois que engordam no pasto
Sem dar conta de que seu destino é o mesmo corredor de matadouro
de tantos outros que foram antes

Um corredor sem volta
Lá ouvem os gritos, tremem,
Mas basta um pequeno estímulo
E lá estão eles, seguindo em frente ante a morte certa
Gordos e acomodados demais para voltar atrás.


Quando descobriu a luz, a criativa menina
Juntou suas palmas abertas
E deu asas a uma linda pomba
Uma pomba onde voavam longe seus pensamentos de menina
Mas a menina cresceu e a lida do trabalho
Que mais danifica que dignifica
Foi devorando um a um seus lindos dedos
A pomba, assim como seus pensamentos
Agora não voa
Agora é Pedra
Dura, estática e sempre à espera
Que um dia outra criança à confunda com esfera
E com seu estilingue a lance pelos ares
Pra mais uma vez voar
Sem se importar que em seu voo trágico
abata um pássaro
Que ainda se permitia sonhar

Franklin Maciel

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