Os 500 bilhões do narco negócio
Hernán Carrera
Caracas, 12 de setembro. (ABN) ― Ópio, cocaína, maconha e anfetaminas mobilizam mundialmente cada ano um orçamento que pode dobrar o de um país petroleiro como Venezuela. Devidamente “lavados” e levados a honoráveis bolsas de comércio, os lucros anuais do narcotráfico chegam a representar em ações “perfeitamente legais” mais de 300 bilhões de dólares: uma cifra que torna ridícula a pretendida idéia de que é este um negócio manejado por capos terceiro-mundistas que se escondem em algum bunker da Colômbia ou do Afeganistão.
Um camponês boliviano – Julio Quispe, ponhamos, para inventar um nome – que evada o monopólio estatal da coca, receberá 1.375 dólares pelos 275 quilos de folhas necessárias para produzir um quilo de pasta ou base de cocaína. Um narcocolombiano – Alvaro Jaramillo, digamos – poderá processar esse quilo de pasta e vendê-la a qualquer congênere por uns $ 5.000, ou transformá-la em cloridrato e revendê-la em Cartagena ou Bogotá por $ 15.000. No Harlem, ou na Broadway, ou em Harvard, um Tom Smith ou Jimmy Johnson qualquer um poderá optar entre oferecer o pó puro, a uns $ 30.000 o quilo, ou adulterá-lo até obter por cada grama de pedra ou craque entre 40 e 80 dólares. Os 1.375 dólares de Julio Quispe são agora, em média, 60.000.
Um negócio simples, dir-se-á: não requer mais do que umas folhas que crescem quase silvestres, algo de querosene, um pouco de ácido sulfúrico e acetona, um narcomula ou uma propina ou um disfarce talvez. E, claro, um tanto de má consciência e outro de ousadia para deslocar de um sitio a outro esses mil gramas.
Mas não é um quilo: são 992.000, pois essa foi, segundo o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC, na sua sigla em inglês), a produção mundial de cocaína em um ano tão qualquer como 2007. E não é só coca: também há, igualmente lucrativos ou mais, 8.870.000 quilos de ópio. E 41.400.000 quilos de maconha. E 494.000 de anfetaminas várias. E pare você de contar alucinógenos e outras espécies.
Falamos, então, de mobilizar por todo o mundo, desde as selvas mais apartadas até os colégios e universidades e bares e escritórios de qualquer cidadezinha primeiro-mundista, algo mais de 50 milhões de quilos de substâncias ilícitas, que são objeto de perseguição feroz e de guerra à morte. Falamos, ademais, de mover também pelo mundo inteiro outra coisa ainda muito mais difícil de fazer passar inadvertida: os 500.000 milhões de dólares que como mínimo, no dizer dos especialistas (da ONU, do Fundo Monetário Internacional, da Drug Enforcement Administration ou DEA), dão de lucro anual essas substâncias. A preços de 2006.
Isso é o narcotráfico. E é apenas o começo.
Coisas que podes saber só de olhá-las
No começo da longa cadeia do narcotráfico nem tudo são elos perdidos: conhece-se perfeitamente os grandes centros de produção. E as grandes rotas de distribuição também.
Com 193.000 hectares semeados de dormideira, Afeganistão concentra 92% da produção mundial de ópio. Pura, ou transformada em morfina ou heroína, a droga afegã flui para a Europa através do Paquistão, das ex-repúblicas soviéticas do Turquemenistão e do Ubequistão, do longo corredor curdo, de Geórgia, de Chechênia, dos Balcãs. De longe, Miamar compete com seus 27.000 hectares de papoula.
Colômbia é dona de 55% do cultivo mundial de folhas de coca: 99.000 hectares. Seguem-lhe Peru, com cerca da metade disso, e Bolívia, com 28.900 hectares quase inteiramente dedicados ao processamento e comércio legal. O cloridrato de cocaína tem por destino principal os Estados Unidos. Sobe pelo Pacífico, via Panamá, ou pelo Caribe colombiano, ou atravessa a Venezuela para fazer escala nas antilhas. Outra parte, menor, cruza o Atlântico e toca a África antes de entrar na Europa.
A Ásia oriental e tecnologizada representa 55% do mercado mundial de anfetaminas (êxtases e outros estimulantes), e se encarrega por si mesma de produzir e consumir seus tabletes. O mesmo fazem seus outros dois grandes competidores: a culta Europa e os Estados Unidos da implacável DEA.
Desses mesmos supervigiados prédios da DEA – no território estadunidense – se sabe com certeza que os Estados Unidos acaparam a maior porção do bolo no mercado mundial de produção e consumo de maconha, graças às técnicas de cultivo hidropônico em interiores e inclusive em subsolos. Ainda que mais democrático em sua irrigação pelo globo – a cannabis se semeia em 172 países –, a América concentra 55% da produção e tem em seu lado Norte uma das mais altas taxas de prevalência mundial: 10,5% dos norte-americanos entre 15 e 64 anos são consumidores. Na Europa, com três milhões de adictos (consumo diário), esta erva encabeça as estatísticas do Observatório Europeu das Drogas e Toxicomanias.
Com apenas esses poucos dados, algumas coisas começam já a chamar a atenção no obscuro mundo do narcotráfico. Coisas, digamos, que não parecerem ser casuais.
Por exemplo, que Afeganistão, o quase monopólico centro mundial de produção de opiáceos, esteja literalmente cruzado de tropas invasoras e misseis e tanques e mortos, e sem embargo…
Que do Paquistão e até das ex-repúblicas soviéticas do sul, amistosamente ocidentais, não se fale. Que Geórgia e Chechênia, e o corredor curdo (Irã, Iraque, Turquia), e a porta de fundos da Europa (Albânia, os Balcâs) sejam tão cruamente cenário de guerras, de intervenções, de vigilância extrema pela mal chamada “comunidade internacional”, e sem embargo…
Que Miamar esteja na lista dos “Estados falidos”, e sem embargo…
Que Colômbia acumule nove anos de Plano Colômbia, e de balas, e de deslocados e de mortes outra vez, e sem embargo…
Que o Caribe seja tão decididamente mare nostrum dos gringos, tão sulcado de patrulhas, e de satélites, e sem embargo…
Ou, por exemplo, que a maconha, por longo tempo a rubrica de maior peso no narcotráfico mundial – 80%, em termos de tonelagem –, e o que mais alarmes de consumo acende nos países altamente desenvolvidos, e o que ali mesmo se produz – assim como as anfetaminas –, seja justamente a droga menos perseguida.
Mas claro: ninguém se imagina um “Plano Holanda”, um bombardeio incendiário de laboratórios semeados em Borgonha, uma invasão aliada contra Londres, umas autodefesas que desloquem e aniquilem as populações do Harlem ou do Queens. Ainda que sejam negros, ainda que sejam boricuas. Ali o narcotráfico serve para outra coisa.
Peões, capatazes, laranjas
Um simples cálculo matemático estabelece que se as 50.000 toneladas de produção mundial de drogas se transportassem em contêineres de uso corrente, se necessitariam 1.250 gôndolas para carregá-los. Outros, mais ociosamente, calcularam que os lucros respectivos, empilhados em cédulas de cem dólares uma sobre a outra, formariam uma torre de mil metros de altura: quatro torres do Parque Central de Caracas, uma em cima da outra.
Não é fácil esconder um frete assim. Segundo diversos informes internacionais que ratificam o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, os orçamentos do combate mundial contra o narcotráfico equivalem “quase ao mesmo valor gerado pelo comércio de drogas” (http://colombiadrogas.wordpress.com/). Só o Plano Colômbia, no momento de sua aprovação por Bill Clinton, contemplou para esse fim um montante de 1,3 bilhões de dólares. Um total de 87 escritórios da DEA se repartem em 63 países – além dos 227 existentes em território estadunidense – para recordar-lhe ao mundo que essa luta é exigência da maior das potências econômicas, militares e policiais.
E sem embargo: durante todo 2007, esse mesmo DEA teve que jactar-se como logro maior uma apreensão de 19.434 quilos de cocaína num barco de bandeira panamenha: 1,9% da produção mundial.
Os supostos “grandes capos” da droga que terminam presos ou mortos guardam proporção com estas últimas cifras. Carlos Lehder, co-fundador do Cartel de Medellín, era ao ser capturado “dono de dois hoteis, dois aviões, sete fazendas em Quindío e outros departamentos, lanchas e ao menos 1,8 milhões de dólares aplicados” (www.pabloescobargaviria.info/index). Ao ultra-famoso e finado Pablo Escobar Gaviria se lhe atribuiu uma fortuna (nunca auditada, jamais comprovada) de entre 5.000 e 10.000 milhões de dólares: 1% ou 2% do que produz “o negócio” em 12 meses apenas.
Esses “grandes czares” nunca foram mais que pequenos intermediários. Hoje, quando já não estão, quando já não é possível ser a um mesmo tempo capataz de fazenda produtora e presidente de um banco ou uma universidade, seus sucessores são milhares e milhares de peões que só se alçam um escalão ou dois por sobre essa raia miúda do narcotráfico do tal Jaramillo ou Tom Smith ou Jimmy Johnson.
Disse uma vez o ex-presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, conhecedor de ofício: “Há duas coisas impossíveis de ocultar: a tosse e a riqueza”.
A grande lavadora
Como se faz para esconder quatro torres do Parque Central feitas de cédulas de cem dólares? Como se apaga um orçamento que é quase o dobro do de um país que flutua em petróleo como a Venezuela? Como podem passar despercebidos 500.000 milhões de dólares por ano?
Porque, obviamente, a finalidade do narcotráfico não se estriba em enterrar pacotes sob o piso.
Antes de chegar ao extremo superior da cadeia, o negócio das drogas tem – como é sabido – um elo fundamental na lavagem de dinheiro. De cumprir essa função nos níveis dos laranjas e intermediários se encarregam sistemas artesanais: desde o individuo que abre 10 ou 20 contas em outros tantos bancos até esses centros de diversões que repentinamente, sem motivo aparente, se põem na moda e se enchem de luxuosos edifícios e centros comerciais que logo ficam abandonados ou nunca se concluem.
Não obstante, como toda grande indústria num mundo de acérrimo capitalismo e livre mercado, também esta é altamente concentradora e monopolizada. Quem tenha, pois, um modesto 10% desse bolo, deverá lavar cada ano 50.000 milhões de dólares. Vale dizer, a mesma cifra que desde o ano 2000 e inutilmente vem pedindo reunir a ONU para poder cumprir seu grande Objetivo do Milênio: a redução da pobreza.
Para dissolver problemas deste tipo – o branqueamento de dinheiro sujo de qualquer espécie –, o sistema financeiro internacional permite – e apadrinha – um não-sistema: um espaço de extraterritorialidade, alheio a todas as leis nacionais, superintendências bancárias, regulações, convênios internacionais: alheio a tudo quanto não seja o dinheiro e sua intrínseca tendência ao lucro e à acumulação.
Esse espaço é o dos assim chamados paraísos fiscais e a banca offshore, cujas interioridades foram exaustivamente reveladas pelo jornalista e escritor argentino Julio Sevares em estudo intitulado “O dinheiro sujo, sangue do sistema econômico e o poder” (disponível em www.argentina.attac.org/).
No ano de 2004 existiam no mundo 72 desses paraísos, nos quais funcionavam por então um milhão de sociedades amparadas pelo anonimato: empresas – virtuais ou reais – às que nada nem ninguém obriga a apresentar balancetes, estabelecer sua composição acionária ou, inclusive, ter capital algum. Não obstante, a elas se somavam mais de 4.000 bancos offshore com depósitos conjuntos que superavam os cinco bilhões de dólares.
Paraísos fiscais célebres são os das Bahamas e das Ilhas Caimã, no Caribe, mas os há por todo o mundo: funcionam profusamente no centro de Londres, em Mônaco, em Tóquio, no diminuto estado de Delaware, a poucos minutos de Nova Iorque e de Wall Street. E os há inclusive tão curiosos como o Principado de Sealand, que funciona em uma antiga plataforma petroleira do Mar do Norte, ou o Domínio de Melchizedek, situado sobre um desértico atol vizinho às Ilhas Marshal, que através da página web www.Melchizedek.com oferece cidadania e passaporte e facilidades para toda classe de negócios. Sem um único edifício à vista, tem em seus bancos 25.000 milhões de dólares.
No livro Capitalismo criminal: ensaios críticos (Bogotá: Universidade Nacional da Colômbia, 2008), Tom Blickman precisa a magnitude e o modus operandi destas eficientes lavadoras: “A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que agrupa aos 30 países mais ricos do mundo, estima que o volume do comércio mundial que passa pelos paraísos fiscais de maneira documentada cresceu durante este período [desde começos dos 70 até 2004] em cerca de 50%, pese a que estes lugares representam apenas 3% do produto bruto mundial. Esta extraordinária discrepância é uma indicação do grau em que a maioria das principais corporações aproveitam a mobilidade transnacional de seus capitais para lavar seus lucros através de paraísos fiscais e regimes de impostos baixos”.
E acrescenta em seguida: “Ditas corporações utilizam uma variedade de mecanismos, como a re-fatura e os preços de transferência – bens comercializados entre companhias com um dono comum a preços arbitrários, independentes do mercado, e que permitem baixar impostos declarando custos altos e preços de venta baixos nos lugares de maior tributação dos lucros –, ou como as transações realizadas para companhias de papel e para fundos fiduciários secretos extraterritoriais. Meios tais como as ‘contas fiduciárias móveis’, que se trasladam automaticamente a outra jurisdição quanto se realizam averiguações, ou solicitações de assistência mútua judicial, facilitam claramente o delito”.
Como a imensa maioria das empresas assentadas em tais “territórios”, boa parte dos bancos offshore não mostrarão nunca ao cliente nem escritórios nem empregados: são, na realidade, instituições virtuais, conhecidas na gíria como “co-responsáveis”, que para funcionar só requerem de uma conta aberta em uma instituição bancária fisicamente estabelecida nesse ou outro “paraíso”. Se se quer ou necessita ainda maior segurança no apagamento de toda pista que vincule a depositário e depósito, se recorre ao nesting ou ennidado: uma conta em um banco que por sua vez tenha conta em outro banco que tenha conta em um offshore.
Quem tenha dúvidas – imerecidas, há que se dizer – sobre a seriedade dessa banca virtual, pode assim perfeitamente depositar sua confiança no respaldo que lhe proporcionam principalíssimos bancos da Suíça, da Inglaterra, da Alemanha, do Japão, dps Estados Unidos e muitos mais.
Julio Sevares recolhe informação da revista The Economist, em sua edição de 14 de abril de 2001, que permite em tal sentido dissipar as apreensões do mais desconfiado dos narcotraficantes: “Três quartos dos grandes bancos investigados pelo Senado estadunidense têm, cada um, mais de 1.000 contas de bancos co-responsáveis. Os dois bancos maiores da lista, que não são estadunidenses, têm 12.000 e 7.500 contas cada um. A meados de 1999 os cinco principais bancos estadunidenses com contas de co-responsáveis tinham 17.000 milhões de dólares nessas contas. Os 75 maiores bancos tinham depositados nelas 35.000 milhões de dólares”.
Esse é o não-sistema. Num informe de 1999 (“Mercados internacionais de capital”), o Fundo Monetário Internacional (FMI) citava Alan Greenspan, então presidente da Reserva Federal nos Estados Unidos: “Nós não entendemos completamente a dinâmica do novo sistema”.
Mas não interessa entendê-lo. Funciona. E como lava!
O último elo da cadeia
Se nunca houve nem haverá um “Plano Holanda”, tampouco se pensou jamais numa mera “Operação Melchizedek”. Ao final da longa cadeia do narcotráfico não há razzias, nem invasões, nem repressões, nem fotos de frente e perfil com número debaixo. Óbvio.
Quem queira, pois, nomes e rostos, deverá atender ao bom olfato ou à má língua dos jornalistas. Ou confiar em sua própria perspicácia.
Recordar, por exemplo, que Lucio Gelli, grande capo da Loja P-2, teve por sócio principal o Banco Ambrosiano do Vaticano, lá pelos 70.
Que no escândalo do Bank of Credit and Commerce International (BBCI), sétima instituição bancária no ranking mundial, saíram a reluzir em 1991 assuntos tais como financiamento do terrorismo e lavagem de dinheiro, e as contas pessoais de Manuel Noriega, Saddam Hussein, Ferdinando Marcos, e depósitos da Organização para a Libertação dq Palestina (OLP) e o serviço secreto israelense (Mossad) e a contra nicaragüense. E que com o banco veio abaixo a gigantesca transnacional de auditorias (auditorias!) Price Waterhouse. E que nos julgamentos subseqüentes, do lado da defesa de um dos grandes sócios do BBCI, interveio certo escritório entre cujos advogados estava certa Hillary Rodham, mais tarde conhecida – apesar do Lewinsky – como Hillary Clinton.
Que o seríssimo Citibank deixou de sê-lo pelas contínuas investigações e denúncias que o vincularam à prática da lavagem, com diretas referências a regimes altamente corruptos como o do mexicano Carlos Salinas de Gortari, o do peruano Alberto Fujimori e o do filipino Joseph Estrada. Não casualmente, chefes de Estado em países produtores de drogas.
Que ao primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi se lhe descobriu em seu vasto conglomerado midiático uma contabilidade paralela para 64 empresas fantasmas: espécie de super-lavadora para uso pessoal.
Que, enfim, a KBR, gigantesca transnacional da engenharia e da construção, se fez nesses últimos anos bilionários contratos em todos esses grandes centros de produção de drogas aqui citados, e nos corredores que vão do Paquistão à Bósnia e da Colômbia ao México. E que sócios chaves dessa empresa são a família Bush e seu segundo na cadeia de comando, o vice-presidente Dick Cheney.
Por quê ou para quê?
Não tem então muito sentido perguntar-se por quê, se os governos que regem o destino do planeta dedicam tanta energia ao tema do narcotráfico, não apontam suas armas contra os quartéis generais dessa indústria. Caberia mais perguntar-se o porquê botaram tão aparentemente o mundo em pé de guerra contra ele.
Catherine Austin Fitts, uma ex-funcionaria do governo de Bush pai e atualmente diretora de um fundo de inversões em Wall Street, aponta um motivo que ajuda a compreender as razões dessa suposta contradição: cada dólar que se aponta na linha lucros de uma transnacional – General Motors, Toyota, British Petroleum, ponhamos ao caso –, representa automaticamente, por essa estranha lógica do livre mercado, um incremento de seis dólares no valor de suas ações.
Não é pouca coisa, se se multiplicam por seis os 500.000 milhões do narcotráfico. Cedidos em empréstimo a juros baixos, ou inclusive em troca simples por ações, são 300 bilhões de dólares. Perfeitamente legais, cambiáveis, usáveis. A mútuo benefício. Um montante que não convém deixar ao alcance de potenciais competidores.
Disse o renomado jornalista francês Christian de Brie: “O abandono das soberanias nacionais e a mundialização liberal – que permite aos capitais circular sem controle de um lado a outro do planeta – posibilitaram o crescimento explosivo de um mercado financeiro fora da lei, motor da expansão capitalista lubrificado pelos lucros do grande crime” (“Crime, a maior empresa livre do mundo”, em http://mondediplo.com/2000/04/05debrie).
Assim, enquanto os lucros do narcotráfico fazem de motor do seleto grupo de empresas que realmente domina o planeta, e enquanto as guerras lhes permitem apoderar-se – para esse ou outros negócios – de países inteiros, a raia miúda da droga serve de carne de canhão.
Lá longe, Julio Quispe, Alvaro Jaramillo, os Tom Smith ou Jimmy Johnson contam felizes seu pírrico lucro sem saber que são ao mesmo tempo vítimas e propulsores necessaríssimos do neoliberalismo selvagem. Uma droga como qualquer outra.
Fundação Lauro Campos
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