Especialista defende rigor contra álcool

Especialista defende rigor contra álcool

Médica e diretora da Associação de Medicina de Tráfego diz que nova lei veio na hora certa São José dos Campos
Vivian Zwaricz

Em meio a mudanças no Código de Trânsito Brasileiro, que agora proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em qualquer quantidade por motoristas, surgem dúvidas sobre a aplicação da nova lei.

A diretora da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) e professora da Faculdade de Medicina da USP, Júlia Maria D'Andréa Greve, afirma que a adição do álcool altera o comportamento e o sistema nervoso central e garante o testo do bafômetro é confiável.

Embora reconheça que a Lei Federal 11.705 seja rigorosa e gere dúvidas, ela acredita que é necessário. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.



valeparaibano - Quais as mudanças no organismo com a ingestão de bebida alcoólica? O motorista perde o reflexo?

Júlia Maria D'Andréa Greve - O álcool é uma droga. A adição de bebida alcoólica cria efeitos fantasiosos como alegria e poder, entre outros. O álcool no organismo altera o comportamento e o sistema nervoso central prejudicando assim o reflexo de um motorista.



vale - Existe uma tolerâncias diferentes em cada organismo?

Júlia - A tolerância varia de pessoa para pessoa. Depende de uma série de fatores, um exemplo é a diferença entre o homem e a mulher. Geralmente o homem tem uma tolerância maior aos efeitos do álcool. Outro exemplo é uma pessoa magra, que tem uma tolerância menor.



vale - Qual é o tempo para que o álcool seja metabolizado?

Júlia - Depende da quantidade e da velocidade do consumo. A bebida é absorvida no intestino delgado e pode variar muito para ser metabolizada. Se uma pessoa bebe devagar e come alguma coisa, a diluição é mais rápida. Para um copo de cerveja, demora em média cerca de duas horas. Acima disso, o tempo mínimo para que todo álcool seja metabolizado é de seis horas. O processo é demorado porque passa pelo fígado e o pulmão, além de ser calórico.



vale - Como ela é eliminada?

Júlia - Pode ser eliminada pela urina e pelo intestino e pode se transformar em glicose ou em outras substâncias sobrando apenas as tóxicas que são os resíduos que dão a ressaca.



vale - Qual o teor alcoólico da bebida?

Júlia - A cerveja possui de 5% a 6% de teor alcoólico. Os vinhos têm uma variação de 11% a 15% e nas bebidas destiladas como rum, whisky, tequila e caipirinhas os teores variam de 40% a 50%. Cada um considerando apenas uma dose.



vale - Com a aplicação da nova Lei, o teste do bafômetro é confiável?

Júlia - O bafômetro é totalmente confiável. Os testes já realizados por ele são aferidos pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Certificação da Qualidade). A margem de erro é baixíssima. Os valores indicados por ele são muito precisos há mais de 10 anos. Já fizemos os testes e foi comprovado valores absolutamente próximos com o exame de sangue realizado em clínicas.



vale - O bombom de licor ou o enxaguante bucal podem ser identificados pelo bafômetro como teor de álcool no sangue?

Júlia - Uma coisa tem de ficar clara, pois há muita lenda sendo dita por aí. Dificilmente será detectado, a não ser que a ingestão de bombons seja de grande quantidade, mas é possível haver flexibilidade para casos específicos, como para quem come um bombom licoroso, um sorvete com cássis ou toma um xarope que contenha álcool. Essa margem ainda terá que ser definida por resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).



vale - O que a senhora acha da nova lei?

Júlia - Eu sou a favor da alcoolemia zero. A lei está atrás daquele que não pode beber. Acho que ela precisa de algumas regulamentações para que dúvidas sejam tiradas. Mas não basta o governo obrigar uma pessoa a não beber mais e não fornecer uma contrapartida. Quem tem dinheiro e responsabilidade vai pagar um táxi e quem não tem? O governo precisa oferecer transporte público de qualidade para essas pessoas.



vale - Quem são as pessoas que não podem beber?

Júlia - São aquelas que bebem e dizem que dirigem melhor quando bebem. Estes com certeza provocam acidentes. O indivíduo que mais mata é aquele que não tem problema com a bebida. São os chamados `baladeiros' que saem de uma festa e provocam os piores acidentes. Beber é uma decisão pessoal, mas é preciso que a pessoa saiba que causa acidentes e mortes. Em São Paulo, em 28% dos acidentes de trânsito as pessoas ficam feridas e em 43% morrem. Todos envolvem motoristas embriagados. Envolve vida humana e as sequelas são eternas. Segundo dados do Ipea, cada indivíduo morto em acidentes de trânsito custa para o governo R$ 400 mil.



vale - A nova lei pode ajudar no combate a esses acidentes?

Júlia - Sem dúvida pode, mas é necessário que a imprensa fiscalize e essa discussão que hoje está em alta não termine no papel. É uma tomada de consciência importante porque é um caso grave, direção e bebida não combinam. A fiscalização por parte dos policiais precisa ser mantida e a polícia precisa ser treinada e equipada para que o motorista se sinta fiscalizado. A alcoolemia zero significa segurança absoluta. Com a aplicação da nova Lei quem beber e dirigir vai ser pego pelo bafômetro. Não tem escapatória. As pessoas precisam saber que se elas abusarem, serão pegas. A lei veio no momento certo.

Fiscalização é intensa, diz polícia


Desde que a nova lei federal 11.705 entrou em vigor, no dia 20 de junho, três pessoas foram presas e outras três foram autuadas nas estradas federais que cortam o Vale do Paraíba em fiscalizações realizadas pela Polícia Rodoviária Federal.

Os motoristas flagrados pelo bafômetro foram presos ou autuados por dirigirem embriagados. A chamada Lei Seca proíbe qualquer teor de bebida alcoólica no sangue e determina a suspensão da carteira do motorista que tiver ingerido álcool, além de multa no valor de R$ 955.

Pela lei, o motorista que for flagrado no bafômetro com até 0,29 mg por litro de ar expelido dos pulmões --equivalente a menos de um copo de cerveja-- é multado e perde a CNH por um ano. Acima desse índice, é preso.

O valor da fiança para quem for preso varia de R$ 350 a R$ 1.200. Em caso de reincidência, o motorista é preso, sem direito ao pagamento da fiança.

"A expectativa é que a população se conscientize e o número de multas e prisões diminua. O objetivo é retirar das rodovias motoristas que tiverem ingerido álcool, por isso não haverá tolerância com motoristas que desrespeitarem a lei", disse o chefe de Comunicação Social da PRF, inspetor Edson Varanda.

A Polícia Rodoviária Estadual não informou se multou ou prendeu motoristas nas rodovias estaduais da região.
Fonte: Jornal Valeparaibano

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