PSDB do PT
PSDB do PT
por Ipojuca Pontes em 21 de janeiro de 2008
Resumo: Levando-se em conta as entrevistas de lideranças do PSDB, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente Lula pode ficar descansado e continuar realizando todos os desmandos que desejar.
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“Lula, essa reforma que estou fazendo (no banheiro do Alvorada) é para
quando você chegar aqui (no poder)”
do presidente FHC, em 2000
Se alguém tinha dúvida da associação política/ideológica entre PSDB e o PT, partidos empenhados na “transição para o socialismo” não apenas no Brasil, mas na América Latina, basta ler as entrevistas concedidas por Fernando Henrique Cardoso, no Estado de São Paulo (13/01/08), e pelo senador Arthur Virgílio, na revista Veja (16/01/2008). Nas publicações, o ex-presidente, mais do que o atual líder do PSDB no senado - no entanto, os dois em parceria -, abrem o jogo e fazem revelações espantosas, que o leitor, quem sabe anestesiado pela mixórdia da política nacional, toma conhecimento e fica no ora-veja.
Claro que há diferenças entre os dois partidos. O socialismo democrata do PSDB, bafejado pela aureola da impostação acadêmica, come, no seu esquerdismo embromador, o prato quente do poder pelas beiradas. Já o PT, conduzido por um líder semi-analfabeto mas de larga escolaridade no jogo bruto do sindicalismo predatório, avança sobre o prato sem nenhum constrangimento, apenas encenando, aqui e ali, algum vestígio de civilidade à mesa farta. Só para esclarecer: se o PSDB, para marginalizar o poder político dos coronéis, acenou com “políticas sociais compensatórias” (tipo Vale-Gás, Bolsa-Escola, Bolsa-Maternidade, etc.), o PT, com a junção e distribuição eleitoreira do Bolsa-Família se fez ele mesmo coronel, assenhoreando-se do voto dos grotões para permanecer no poder ad eternum.
Na entrevista do Estadão, o “príncipe” FHC, como de hábito abusando da vaselina Santa Fé, mistifica adoidado. Diz, entre outras preciosidades, que no seu governo só houve apagão porque não choveu. No caso crucial do narcotráfico, hoje patrocinado em larga escala no Brasil pelas FARC, facção comunista dedicada ao seqüestro e contrabando de armas, o ex-presidente resolve esconder o lado ideológico da questão, se diz perplexo pelo consumo da droga entre estudantes da classe média e, como solução, revela que vai estudar a hipótese da sua liberação. É dose!
No caso da cultura da impunidade prevalecente em solo pátrio, a goga amnésica de FHC supera todos os limites. Ele diz textualmente o seguinte: “Quem está preso neste país? O juiz Lalau. E preso em casa. Talvez alguns doleiros, também”. É de doer. O ex-presidente sublima no inconsciente estrangulado que o seu governo deixou de colocar na cadeia dezenas de políticos e bandidos de colarinho branco, entre eles os donos do Banco Nacional, responsáveis pelo peteleco de US$ 6 bilhões nos cofres da Viúva.
(No final da entrevista, rempli de soi-même, FHC deita e rola no regorjeio da boa-vida que leva, de fato, sua especialidade. “Eu me distraio por aqui”, diz ele. “O Mandela criou um grupo – The Elders (mais velhos) – do qual faço parte”. Entre os companheiros da banda do Bico-Doce, a trombetear caminhos socializantes para a humanidade, despontam o arcebispo apóstata Desmond Tutu, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, tido como “delegado das causas radicais”, e o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o velho malandro que propiciou ao filho – Kojo - negociata grossa e lesiva aos cofres da Organização).
Mas a burla de FHC, coisa surpreendente, não toma toda entrevista. Há instantes em que ele se trai e fala o que pensa - o que leva o cidadão consciente ao horror. Como principal mentor do PSDB, diz o seguinte: “Quando se discutiu a possibilidade de impeachment de Lula, não entrei na conversa. Politicamente havia uma situação inequívoca, pois ficou demonstrado que o publicitário dele (Duda Mendonça) recebeu dinheiro no exterior para fazer a campanha a presidente. Qualquer prefeito do interior que tivesse uma acusação dessas nas costas seria cassado! Mas preferi pensar no País. Como enfrentar o impeachment de um presidente operário, um imigrante do Nordeste que chega à Presidência? Que marcas isso iria deixar no Brasil? Eu me opus inclusive à idéia de deixar o Lula se desgastando, lentamente, sangrando. Veja o que aconteceu com Getúlio Vargas. Veja o que aconteceu com Allende, no Chile. Veja o que se passou na Argentina. Não se quebra desse modo um líder político que vem de baixo, num país com uma desigualdade como a nossa”.
Alto lá, Senhor ex-presidente! Seus argumentos em favor de Lula são todos falaciosos, quando menos discutíveis, e você não é o agente do Juízo Final para solapar as obrigações constitucionais do país, sobretudo como representante de partido que se diz da oposição. Então quer dizer que, por muito menos, um presidente eleito com mais de 35 milhões de votos (no caso, Collor de Mello), pode ser escorraçado do poder, e outro (Lula da Silva), por ter sido um líder sindical “que veio de baixo”, - embora fosse o principal beneficiário da ação criminosa da quadrilha oficial que fraudou escandalosamente o processo eleitoral do país – não?
FHC avalia, com precisão, que se qualquer prefeito do interior tivesse sido acusado do que a máfia do planalto fez, estaria automaticamente cassado. Mas, em seguida, apesar das evidências de uma “situação inequívoca”, afirma que resolveu “pensar no país” e deixar a quadrilha organizada permanecer no poder. Quer dizer, filho da anistia, o príncipe gramsciano resolveu “anistiar” Lula. Por isso, lutou dentro do seu partido para que não se instalasse no congresso o necessário processo de impeachment, que poderia colocar Inácio da Silva fora da Presidência.
Ora, quem FHC pensa que é? Algum potentado divino? O próprio Deus? E a nação? E o democrático Estado de Direito? Esquerdista light, mas esquerdista sempre, o sociólogo embromador raciocina da seguinte forma: Lula é popular, apadrinhado de Fidel Castro e pode colocar a massa dos “movimentos sociais” nas ruas. Então, para voltar ao poder, o melhor é não dar asa ao pessoal da direita e empurrar com a barriga – mesmo passando por cima da legitimidade democrática.
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