Manual para enganar eleitor
Manual para enganar eleitor
Vereador de Vespasiano é autor de um livro que ensina candidatos a conseguir votos mentindo para a população, caluniando e difamando os seus adversários "Nosso país foi colonizado basicamente por condenados e meretrizes, e desde o início o
‘é dando que se recebe’ é levado a sério" • Divino Rezende de Morais (em trecho do seu livro) Vereador
Selecione 0,25% do eleitorado de sua cidade e mande cartas em nome de um dos seus adversários, de preferência o mais “desequilibrado emocionalmente”, dizendo que todos os dias ele atende a população em sua casa, distribuindo cestas básicas, remédios, material de construção e até ajuda a pagar algumas “pequenas contas”. Não escreva nada à mão e use luvas desde a compra dos envelopes até a postagem das cartas. De preferência envie as correspondência de uma outra cidade, onde seu adversário tenha qualquer tipo de ligação. O objetivo é humilhar o eleitorado do candidato rival para conseguir derrotá-lo com mais facilidade.
Essa é uma das dicas do livro Estratégias dinâmicas para ganhar eleições, um manual para conquistar votos e se manter no poder, escrito por um vereador de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Divino Rezende de Morais (PSDB). Ele assina a “obra” com o pseudônimo de Planjon R. Morales, tradução, segundo ele, de “divino” em grego. A tática, apesar de ser uma apologia aos crimes de falsidade ideológica e calúnia e difamação, parece ter funcionado com o vereador, que exerce seu quarto mandato consecutivo. Para facilitar o trabalho do seu leitor, Planjon dá inclusive o modelo da carta a ser enviada.
A capa do livro, uma versão tupiniquim de As 48 leis do poder, um best seller de auto-ajuda na área empresarial, sucesso de vendas no mundo inteiro, ilustra bem seu conteúdo. Nela, só aparecem moedas e cédulas de vários países. Não é para menos. Afinal, segundo Planjon, “nosso país foi colonizado basicamente por condenados e meretrizes e desde o início o ‘é dando que se recebe’ é levado a sério”. O livro também prega, sem nenhum constrangimento, a compra de votos, prática proibida pela legislação eleitoral e que pode inclusive acarretar a perda de mandato antes mesmo de a sentença tramitar na última instância.
Mas é preciso cuidados com os eleitores pedintes – alerta o autor – que dá conselhos sobre como o político ou candidato deve fazer para se desvencilhar deles. Um deles é não andar com dinheiro no bolso. O outro é fazer visita aos doentes internados em hospitais da rede pública, mas não demorar muito no leito para não precisar “pagar a conta da farmácia”.
Entre outras pérolas do manual, que está em sua segunda edição, estão conselhos como “tenha sempre um laranja, aquele agente intermediário, que efetua, por ordem, suas transações perigosas, ficando oculta sua identidade” ou “ “tenha sempre uma conta bancária fora de sua cidade e mantenha seu nome no SPC/Serasa, para evitar ser fiador ou avalista de alguém”.
INVESTIGADO O autor do livro, pelo visto, segue à risca seus conselhos. Ele é um dos investigados pela Procuradoria de Combate a Crimes Praticados por Agentes Municipais por irregularidades e fraudes em contratos firmados entre a Prefeitura de Vespasiano e empresas de marketing e eventos. A suspeita é de que Divino e o vereador José Winston (PP), irmão do prefeito Ademar José da Silva (PSDB), sejam os verdadeiros donos de uma das empresas – a Interativa Promoções, Eventos e Marketing Ltda, registrada em nome de laranjas. O diretor administrativo da empresa é o filho de Divino, Gilberto Rezende. Entre as verbas que teriam sido desviadas, estão recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef). Além disso, também responde a uma ação popular que pede o cancelamento e a devolução dos salários recebidos ilegalmente, devido a um aumento aprovado pela Câmara Municipal em 1997.
Cristina Horta/EM - 7/4/06
Alessandra Mello
PAGAMENTO ANTECIPADO Um dos conselhos de Planjon Morales para quem quer se iniciar na vida pública e se tornar um “bom político” é “pagar seus compromissos com as melhores moedas: real, dólar, lote, carro…”. “E muitas vezes efetue o pagamento adiantado, especialmente quando encontra pseudo-lideranças com ampla experiência em politicagem, que têm o poder de transformar o voto em ativo futuro e o processo eleitoral em uma bolsa de valores”. Em relação aos jornalistas; ele é taxativo: se não pode cooptá-los, compre-os.
Se a eleição estiver difícil, a sugestão é apelar para o sentimentalismo e simular algum tipo de doença. “Um gesso numa perna ou num braço costuma ser determinante para provocar reações de pena, fragilidade e maior atenção e cuidado por parte do observador”, aconselha. A tática se enquadra perfeitamente na definição para Planjon do que é um “verdadeiro político” – aquele que tem “duas faces” ou “facilidade de expressão”, para usar um eufemismo do próprio autor. Dicas do livro: Estratégias dinâmicas para ganhar eleições “Calcule qual adversário vai te dar mais trabalho, escolha o que tiver maior desequilíbrio emocional e pegue seu endereço. Escreva cartas anônimas com um endereço de um remetente fictício para 0,25% dos eleitores selecionados dizendo que ele mora na cidade e tem ajudado em sua própria casa, no endereço tal e tal…, com remédios, cestas básicas, materiais de construção e tem pagado até algumas contas de água, luz e telefone”
“O bom político deve possuir várias caras, usando-as de acordo com a circunstância. Manter-se sempre em evidência; está é a lei. Procure visitar hospitais nos horários estabelecidos e faça-se notado. Porém, mande um assessor antes para colher o nome e o número do paciente. Depois passe de leito em leito cumprimentando-os pelo nome e desejando-lhes saúde (de preferência perto de seus familiares). Não fique mais do que dois minutos em cada leito, para que não tenha que fazer visita à farmácia mais tarde”
“ O bom político deve evitar desgastar sua imagem. Para saber onde e quando aparecer deve-se usar um “laranja” , aquele agente intermediário, que efetua, por ordem suas transações perigosas, ficando oculta sua identidade”
“Tenha sempre uma conta bancária fora de sua cidade e mantenha seu nome no SPC/Serasa para evitar ser fiador ou avalista de alguém”
“O bom político sempre paga seus compromissos com as melhores moedas: real, dólar, lote, carro…e muitas vezes efetua o pagamento adiantado, especialmente quando encontra pseudo lideranças com ampla experiência em politicagem, que tem o poder de transformar o voto em ativo futuro e o processo eleitoral em uma bolsa de valores”
“A prefeitura está recheada de cargos cujos salários podem chegar a 20 mínimos. Várias daquelas vagas poderão ser de vocês, mas para isso eu preciso ser eleito”
Fonte: http://www.lagoasanta.com.br/eleicao_2000/manual_enganar_eleitor.htm
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