Brasil 'se tornou ator econômico de peso',

Brasil 'se tornou ator econômico de peso',
diz 'The Guardian'

Em um suplemento especial de 20 páginas publicado nesta sexta-feira, o
jornal britânico "The Guardian" faz um balanço do Brasil e afirma que "mais
conhecido pelo futebol, samba e sensualidade, ele se tornou um ator
econômico de peso".

No caderno intitulado "Terra de Contrastes", o jornal faz uma análise dos
setores de economia, agricultura, energia, saúde e cultura, além de um
perfil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da cidade de São Paulo, que
chama de "a cidade do futuro".

Segundo o "Guardian", quando se pensa "na exuberância brasileira", a
primeira coisa que vem à mente, dificilmente, será a economia, já que o
Brasil "é a terra do Carnaval".

"Mas visualize isso: um país em que o fluxo de investimentos atingiu níveis
recordes, onde a exportação de tudo, desde soja a biocombustíveis, está
aumentando e onde a renda dos ricos e pobres está crescendo e impulsionando
um boom de crescimento. "

A reportagem afirma que o Brasil "parece ter entrado em uma nova fase de
expansão sustentável que poderia, finalmente, destrancar o vasto potencial
do país".

Segundo o jornal, os números vão "de bons a espetaculares: 1,4 milhão de
empregos criados todos os anos; mais de US$ 100 bilhões em reservas (que
excedem a dívida externa e tornam o Brasil credor internacional) ; 4,7% de
inflação, o que é 'manso' pelos padrões brasileiros; 4% de crescimento
econômico, e uma ligeira aproximação na diferença com a China. Ah, e no ano
passado o mercado de ações cresceu em 60%".

Segundo analistas ouvidos pelo "Guardian", o crescimento é equilibrado e o
país estaria menos vulnerável hoje.

"Analistas concordam que a forte demanda doméstica, a estabilidade
financeira e exportações bem distribuídas internacionalmente oferecem alguma
proteção contra o desaquecimento americano. Quando o mundo pega uma gripe, o
Brasil não mais pega uma pneumonia."

O "Guardian" destaca que agora, além do samba e jogadores de futebol, o
Brasil também exporta carros e aviões, notadamente aviões executivos e de
passageiros da Embraer, mas afirma que apesar do crescimento, o país ainda
enfrenta vastos problemas sociais e ambientais.

"Há um lado escuro do crescimento. Ambientalistas levantam o alarme de que o
cultivo de cana e soja estão empurrando o rebanho de gado para o norte, na
Amazônia, acelerando o desmatamento. As condições dos trabalhadores de
algumas dessas plantações já foram comparadas à escravidão."

"O crescimento ainda provocou gargalos de infra-estrutura horrendos. Os
engarrafamentos em São Paulo pioram a cada mês, os portos não conseguem
acompanhar o ritmo do volume de navios e as viagens aéreas freqüentemente se
tornam caóticas."

De acordo com políticos entrevistados pelo jornal, estes seriam problemas
normais do processo de amadurecimento do país.

O "Guardian" ainda destaca a desigualdade entre ricos e pobres e a violência
nas favelas: "A guerra de gangues e a brutalidade policial permanecem
enraizadas aqui, bem como a extrema desigualdade. Algumas favelas, com sua
legião de crianças de rua e barracos de madeira e plástico, poderiam passar
pelas regiões mais empobrecidas da África subsaariana. Exceto pelo fato de
que helicópteros sobrevoam a região, transportando os super-ricos para
compras com hora marcada com Gucci e Jimmy Choo".

Críticos ouvidos pelo jornal ainda dizem que o crescimento do Brasil
impressiona, mas é vazio, "como um carro alegórico de Carnaval, porque se
apoia em condições globais benignas e no crescimento do crédito doméstico
enquanto foge à difícil tarefa de construir uma economia competitiva" .

O "Guardian" conclui comentando que o Brasil era conhecido como o país do
futuro. "O futuro ainda não chegou, mas está mais perto agora do que já
esteve em várias gerações."

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