Ansiedade, uma reação natural diante do desconhecido
Ansiedade, uma reação natural diante do desconhecido
As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são um nervosismo quase permanente, um estado de preocupação excessiva, uma duração do problema superior a seis meses e objetivos centrados em uma ampla gama de situações e eventos. Sensações de sufoco, medo de morrer, taquicardias, instabilidade e problemas gastrintestinais são alguns dos sintomas próprios da ansiedade. As piores crises costumam ser as primeiras, quando as pessoas que sofrem deste mal enfrentam algo desconhecido. Existe o risco de que estes episódios se transformem em crônicos naquelas pessoas que vivem uma situação de estresse contínuo ou que não enfrentam os problemas.
O transtorno de ansiedade pode estar relacionado com outros similares: medo de se portar mal em público (fobia social), de contrair uma doença (hipocondria), de ser afastado de casa ou das pessoas queridas (angústia de separação), de engordar (anorexia nervosa), ou de apresentar uma série de sintomas patológicos em cadeia (somatização).
Relação entre ansiedade e depressão.
Psicólogos e psiquiatras concordam que a relação entre ansiedade e depressão é elevada, já que os quadros costumam coincidir em 60%, embora destaquem que é preciso distinguir entre ambas as doenças, visto que requerem um tratamento muito diferente.
Estima-se que um quarto da população mundial sofra de ansiedade em algum momento de sua vida, problema que é qualificado pelos especialistas como uma reação natural de defesa diante de um fato que objetivamente não é perigoso.
Para o chefe do departamento de psiquiatria do Instituto de Neurologia Cognitiva da Argentina, Marcelo Cetkovich-Bakmas, "a angústia da vida cotidiana é uma reação normal do organismo e deveria se tentar tolerá-la e canalizá-la".
Alguns cérebros são mais propensos que outros.
Cada vez se publicam mais estudos nos quais se analisam as causas deste problema e os tratamentos mais adequados para evitá-lo. Um dos estudos mais recentes, elaborado pelas universidades de Castellón e Barcelona, na Espanha, revela a existência de uma anatomia diferente em pequenas áreas do cérebro que poderia ajudar a explicar por que um estímulo desencadeia ansiedade em algumas pessoas e em outras não.
Segundo os autores do trabalho, publicado recentemente na revista científica "NeuroImage", determinados cérebros atuam mediante um mecanismo que os tornam mais propensos do que outros a sofrer do problema e não controlar a ansiedade diante de situações idênticas. Os pesquisadores estudaram 63 indivíduos nos quais foram realizados um teste de sensibilidade e uma ressonância magnética, que permite quantificar o volume de massa cinzenta nas diferentes estruturas encefálicas.
A pesquisa revela que existe "um maior volume de massa cinzenta encefálica" em três regiões cerebrais daquelas pessoas com maiores valores no teste, coincidindo com as regiões anatômicas que são acionadas perante estímulos de castigo ou recompensa. Nos pacientes com transtornos de ansiedade existe uma "ativação excessiva" perante certos estímulos, o que provoca uma resposta "desproporcional" frente às vivências, que subjetivamente entendem como tensas, estressantes ou perigosas.
De acordo com o estudo, sua ansiedade seria determinada pela "ativação excessiva do medo ou da incapacidade para satisfazer as necessidades que consideram importantes". Por este motivo, "seria difícil para eles reagir diante de uma situação de tensão ou estresse, desencadeando o conseqüente sentimento de frustração; daí sua freqüente relação com as mudanças de caráter depressivo". Mediante o uso da ressonância magnética funcional os cientistas descobriram que, neste tipo de pacientes, existe uma "ativação excessiva" do sistema de inibição do comportamento (BIS em inglês), diante de estímulos adversos.
A solução é agir sobre o problema na infância. A chave para ativar as defesas diante da ansiedade é proteger o indivíduo desde sua mais tenra infância. Está demonstrado que a baixa auto-estima, a ansiedade e a depressão são as conseqüências mais freqüentes dos maus-tratos infantis. Especialistas e profissionais que trabalham com auxílio aos menores que sofrem agressões, dizem que a recuperação da criança é possível com um entorno propício. As crianças maltratadas podem desenvolver respostas miméticas do comportamento que observaram em sua infância e se transformar depois em pessoas que praticam maus-tratos.
As crianças não verbalizam seus problemas, mas os manifestam com alterações no comportamento como insônia, pesadelos, baixo rendimento escolar e descontrole de esfíncteres em idades avançadas.
Os psicólogos destacam a baixa auto-estima produzida pelas agressões, já que em idades adiantadas as crianças carecem de outras referências e acreditam que o que acontece com eles é o normal em outras famílias. Há casos estudados em que elas chegam a sentir culpa. Apesar de as seqüelas sofridas por uma criança vítima de maus-tratos serem terríveis e perduráveis, elas podem ser corrigidas se for oferecido um entorno acolhedor que favoreça o carinho e a convivência pacífica, embora os especialistas digam que é preciso agir a tempo.
Sexo e ansiedade.
Também já está amplamente estudado que a ansiedade e uma atitude negativa frente ao sexo prejudicam intensamente a função sexual da mulher. Os resultados de uma pesquisa, realizada pelo departamento de Personalidade, Avaliação e Tratamento Psicológico da Universidade de Granada (sul da Espanha), revelam que as mulheres sentem maior desejo sexual na medida em que têm fantasias sexuais íntimas, mas os estados emocionais como a ansiedade e uma atitude negativa frente ao sexo prejudicam intensamente sua função sexual.
Já os homens reagem de forma mais positiva que as mulheres aos estímulos e pensamentos sexuais que, unidos às fantasias íntimas, potencializam sua libido. No entanto, algumas fantasias como as sadomasoquistas têm efeito contrário, já que são consideradas como negativas pelo gênero masculino.
Tranqüilizantes e antidepressivos.
Tranqüilizantes e antidepressivos são os remédios mais usados no tratamento de transtornos derivados da ansiedade, mas o abuso deste tipo de medicamento, como conseqüência de uma tendência excessiva à automedicação, está provocando situações alarmantes. Na Argentina os especialistas manifestaram sua preocupação pelo "uso selvagem" do tranqüilizante clonazepam (comercializado aqui no Brasil com o nome de Rivotril). O consumo deste fármaco para combater a ansiedade aumentou mais de 20% nos dois últimos anos em detrimento de outros tranqüilizantes tradicionais, o que o transformou em um dos 10 remédios mais vendidos no país.
As autoridades sanitárias dos EUA advertiram que alguns dos remédios mais populares contra a depressão podem constituir um perigo mortal para quem sofrem de dores de cabeça. Segundo a Administração de Alimentos e Fármacos (FDA, na sigla em inglês), a combinação desses remédios com outros contra a dor de cabeça podem causar um transtorno chamado "síndrome de serotonina" que pode ser fatal. Esta síndrome, causada pela presença excessiva dessa substância no organismo, pode produzir alucinações, e um aumento do ritmo cardíaco e dos movimentos reflexos.
Por último, um estudo científico britânico sustenta que os antidepressivos de nova geração - como Prozac ou Seroxat - somente funcionam nos casos mais graves, enquanto na maioria dos pacientes só têm um efeito placebo. Segundo Irving Kirsch, professor de Psicologia da Universidade de Hull (norte Inglaterra) e co-autor do estudo, uma vez conhecidos estes resultados, parece que quase não há motivos para receitar antidepressivos, salvo nos casos de pacientes mais graves e nos quais outros métodos falharam. Os fabricantes destes remédios apresentaram batalha e desqualificam o estudo baseando-se no argumento de que, desde o lançamento do Prozac em 1988 nos EUA, mais de 40 milhões de pessoas o consumiram, o que se contradiz com o efeito placebo preconizado pelos cientistas britânicos.
Por Francisco Galindo
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