O Custo Social do Álcool
Nesses últimos trezentos anos, todos os países desenvolvidos, onde a democracia prosperou, buscaram formas de proteger a sociedade aumentando o controle social da produção, importação, distribuição, propaganda e venda direta ao consumidor do álcool. Mesmo países como os EUA, que tem uma forte tradição de livre comércio, existe um rígido controle social com relação a esse produto. O grande argumento para esse controle especial é o custo social desse produto. Na última década as pesquisas mostraram que o álcool custa à sociedade americana cerca de U$ 148 bilhões ao ano. Os gastos com saúde consomem U$ 20 bilhões, com morte prematura U$ 32 bilhões, criminalidade U$ 20 bilhões. No entanto a grande perda é de produtividade das empresas com cerca de U$ 70 bilhões. O argumento do custo social faz com que o álcool seja considerado como um produto à parte e que não deveria ser comercializado de uma forma banal.Existe um argumento liberal de que a oferta e a demanda do álcool deveria ser algo que o próprio mercado deveria regular e que no Brasil temos controle em demasia e não necessitaríamos de mais um controle sobre esse produto. Além disso, seria pouco democrático fazermos controle de um produto que é legalizado. No entanto são exatamente os países mais desenvolvidos do ponto de vista democrático que aumentam a cada dia o controle social sobre o álcool. Busca-se balancear o interesse da industria de bebidas com o interesse da sociedade em proteger-se dos danos causados pelo álcool. No Brasil a vergonha de exercermos o controle social associado a uma grande apatia de política de saúde tem tornado o álcool um produto com um alto custo social. Pois sua demanda tem sido fortemente estimulada pela propaganda, pelos baixos preços e pela excessiva oferta nos pontos de venda. Especialmente a propaganda do álcool se apossou de vários ícones nacionais para criar a idéia de que só podemos nos divertir com um copo de cerveja na mão. Como não temos uma política de licença para a venda de álcool qualquer pessoa pode abrir um bar e vender álcool. Esse fato tem mudado a paisagem e a cultura urbana brasileira. Estamos acostumados a termos bares espalhados por todas as cidades, como se isso sempre tivesse existido, e fosse normal. A anormalidade chega a ponto de tragédia nas periferias das grandes cidades, onde a falta de opção de lazer transformou os bares nos únicos locais de encontro e socialização da população masculina. Contribuindo em muito para o aumento da violência. Em um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo no Jardim Ângela, uma das regiões mais violentas da cidade de São Paulo, mostrou que existia um bar para cada dez moradias. Revelando uma das maiores densidades de bares já registrada na literatura médica.A anomalia chega a tal ponto que qualquer pessoa pode produzir e vender álcool sem grandes preocupações. As leis são poucas e não são cumpridas. JustificativaEssa falta de controle tem produzido um custo social enorme para o país. Cerca de 15% da população adulta masculina bebe de uma forma abusiva. Essa população vive com uma família que acaba sofrendo de várias formas, com cerca de 20% das moradias estão tendo ou já tiveram algum tipo de problema relacionados ao uso do álcool. Uma parte significativa das crianças abandonadas tem no álcool a causa da desorganização familiar. Metade dos acidentes automobilística é devida ao abuso de álcool. Mais da metade dos homicídios está relacionada ao consumo de álcool. Do ponto de vista da saúde 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas são devida ao álcool. A sociedade brasileira está pagando um alto preço pela falta de proteção com relação ao álcool.Extensivas pesquisas têm demonstrado que quanto mais elevado o consumo médio do álcool numa população, maior a incidência de problemas relacionados ao álcool. Isto vale para quase todos os tipos de problemas relacionados ao álcool - por exemplo, infrações de transito ao dirigir alcoolizado, violência domestica, agressões, crimes, mortalidade devida à cirrose hepática são situações que apresentam essa relação. Tal fato deu origem ao que se chama de "paradoxo da prevenção", porque, paradoxalmente, as medidas preventivas destinadas a reduzir tais problemas têm de ser dirigidas a toda a população de bebedores, e não apenas aos bebedores pesados.Além disso, pesquisas também têm demonstrado que quando se reduz o consumo global de álcool em uma população, não apenas os bebedores moderados (ou "sociais", ou que tem um padrão "normal" de consumo de álcool) são atingidos, mas os bebedores pesados e os bebedores problemáticos também são sensíveis a essa redução de consumo.Tais fatos - o primeiro, quanto mais elevado o consumo médio numa população, maior a incidência de problemas relacionados ao álcool, e o segundo, que os bebedores pesados também são sensíveis a medidas de redução global de consumo - conferem legitimidade a políticas que visam reduzir globalmente o consumo de álcool em uma sociedade.Além da disponibilidade do álcool, a aceitação do seu consumo também desempenha um papel importante. Essa aceitação é determinada em grande medida por valores sociais e culturais. A cultura pode influenciar o padrão de consumo e o contexto em que o álcool é consumido, bem como a quantidade de álcool consumida. Atualmente, assiste-se a um grande aumento do consumo por parte da população adolescente, com conseqüente aumento dos danos relacionados ao álcool; e o consumo do álcool não só é largamente aceito ente esta população, como também o beber excessivo é estimulado entre os adolescentes, antecipando muitos dos problemas relacionados ao álcool. Esta aceitação do consumo e a aceitação de um padrão de beber excessivo também devem ser contempladas com políticas eficazes em alterar os valores sociais e culturais.
Fonte: Uniad
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