Guerra da Vacina.

 


Direita pão com margarina e esquerda cirandeira convergem num ponto sobre o coronavírus:
Os dois tratam a sindemia como causa natural.
Enquanto cirandeiros acreditam que seja possível ficar em casa até a vacina milagrosa, salvadora de todos os males, chegar a todos,
Os pães com margarina são adeptos da seleção natural de Darwin (que julgam ser Moisés pela barba), onde somente os mais adaptados sobrevivem.
Ambos se comportam como cínicos que fingem ignorar que, para além biológico, o vírus é um fator político, que esfrega na cara de toda a sociedade que a tal seleção se dá muito mais por fatores sociais (desigualdade) que fatores naturais (biologia).
O problema começa na arquitetura das cidades, onde aqueles que moram nas periferias, em casas apinhadas de gente, em ruas sem saneamento básico, paredes com mofo, amiúde sem reboco, teto baixo e outros, estão muito mais vulneráveis ao coronavírus e a toda sorte de doenças, que aqueles que moram em bairros planejados, com baixa densidade, construções sólidas e saneamento.
Avança sobre as relações de trabalho, onde a classe média pode se dar ao luxo de se adaptar à hipocrisia do “novo normal”, transferindo a maioria das suas atividades para o modo remoto, o tal home office, que já era uma tendência que foi acelerada, enquanto os mais pobres continuam pegando no pesado, se locomovendo pelo transporte público cada vez mais precário, servindo aos que podem se dar ao luxo de ficar em casa.
Chega nas diferenças econômicas que determinam a capacidade de alimentação, acesso à educação e a toda sorte de serviços e bens de consumo.
E culmina na capacidade de alienação ideológico-religiosa-moral, que distorce a percepção de mundo e faz boa parte das pessoas se condicionarem a ideias e ações que lhes tiram qualquer oportunidade de vida minimamente digna, justa e decente, deformando o sentido de justiça em vingança e satisfação em ressentimento.
Desta forma, as soluções vão muito além do salve-se quem puder ou da vacina para todos, começa por fortes investimentos em um projeto nacional de melhor distribuição territorial das famílias pelo território nacional (marcha para o oeste), investimentos maciços em infra-estrutura e habitações, política de abastecimento e investimentos no desenvolvimento de patentes, mudanças na estrutura tributária, tirando o foco no consumo e renda e o transferindo para o lucro e dividendos, desestimulando assim o rentismo que desmonta a indústria nacional e todo setor de desenvolvimento.
Com essas ações, que necessariamente precisam do Estado como grande investidor e avalizador, serão criadas frentes de trabalho, capazes de absorver boa parte da imensa mão de obra sucateada no país, investimento no desenvolvimento de tecnologia local, assim distribuindo renda, ao mesmo tempo que redesenha a geografia das cidade, a um modelo mais adequado aos novos tempos.
Com esses fatores todos entrelaçados, não só uma pequena parcela da sociedade, mas todos terão maior segurança habitacional, alimentar, financeira, física e mental, de modo que sejam criadas condições diretas de prevenção, evitando o derretimento de divisas em remediar, como por exemplo, os 20 bilhões só na aquisição de vacinas, fora aparatos médicos e afins, que na somatória de outros fatores, como a desindustrialização e deseducação do povo, só aumentam a miséria e a desigualdade no país que, hoje só não é maior que a de meia dúzia de países africanos.
Você pode bancar o cego fanático, ou incorporar o egoistinha que acha se vira sozinho, mas lembro que, por mais que se sinta protegido no médio e curto prazos, pertencer e se adaptar a uma sociedade doente e corrompida, só vai deformá-lo em algo bem pior que um jacaré, algo que depois de extraído todo senso de utilidade, será transformado num bagaço e lançado no lixo.
A escolha é pessoal, mas também coletiva, porque o homem é social, não é bicho ou planta que se vira sozinho.
Franklin Maciel

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