Termelétrica e o Lobby da Desgraça


Termelétrica e o Lobby da Desgraça

*Por Franklin Maciel


Imagine que você mora numa casa emprestada pelo seu pai e ele lhe dá um prazo de 15 anos para você desocupar a casa, encontrando outra para morar ao final dos 15 anos.

Mesmo tendo todo o tempo do mundo para procurar a melhor casa, no melhor bairro e pelo melhor preço e condições para pagar, você fica desesperado para arranjar logo uma casa nova e se depara com uma velha, cheia de vazamentos, numa vizinhança ruim e custando três vezes mais do que uma casa nova na mesma região.

Seus familiares, amigos, vizinhos e até especialistas dizem o tempo todo para você que comprar aquela casa é loucura, que você vai perder não só dinheiro, mas principalmente qualidade de vida comprando essa casa.

Entretanto, você quer porque quer a casa, não importando que ela caia sobre a cabeça dos seus filhos e os prejuízos que cause, então, para justificar essa compra condenada por todos, você pede ao vendedor que lhe dê um certificado dizendo que aquele é o melhor negócio do mundo que você pode fazer, coisa que o vendedor prontamente lhe dá, afinal, quer melhor negócio para quem vende que vender lixo três vezes mais caro que um bem novo e de qualidade?


Pois, foi agindo exatamente sobre esses critérios que o prefeito Cury e seus secretários foram até o Rio de Janeiro com despesas pagas pelos cofres públicos, passear pelo calçadão de Copacabana e apresentar, num Fórum de Negócios, seu “negócio da China”, a instalação de uma termelétrica à base de lixo ao custo de duzentos milhões de reais, que somado aos aditamentos corriqueiros da prefeitura, como no caso do novo Fórum que triplicaram o valor da obra, assim, no final da brincadeira, corre-se o risco da tal usina de lixo sair mais caro que um metrô para a cidade.

Ora, como era mais do que previsível, todos aqueles empresários adoraram a ideia, afinal, não é todo dia que alguém sugere comprar tecnologia ultrapassada e poluidora pagando os olhos da cara. Um projeto assim, é lógico que merece prêmio e reconhecimento por parte dos empresários do setor que estão loucos para colocar as mãos nos milhões que custarão a obra, não importando os impactos negativos que isso gere para o povo que vai pagar a conta.

Assim, o prefeito, como o personagem que quer comprar a casa velha à qualquer custo, mesmo diante de todos os argumentos contrários, voltou “todo todo” do Rio de Janeiro exibindo seu novo diploma de honra ao mérito pela ideia estapafúrdia da Termelétrica, só que, ao contrário do personagem da história da casa, que vai pagar do bolso mais caro pela casa caindo aos pedaços, o sr. Prefeito pretende fazer mais esse péssimo negócio com o nosso dinheiro, dinheiro que alega não ter para melhorar a saúde no município, para recapear avenidas importantes, mas que sobra para gastar em bobagens.

Entre os muitos pontos obscuros que cercam o projeto da termelétrica destacam-se:

  1. O custo astronômico do empreendimento (200 milhões de reais), o qual o município não dispõe em caixa e que, seguramente será alvo de endividamento do município junto à órgãos financeiros nacionais e até internacionais;
  2. Para seu funcionamento, a usina necessitará do dobro diário de lixo produzido atualmente pelo município, de modo que, provavelmente, além de seu lixo produzido, o município acabará importando lixo de outras cidades vizinhas, piorando em muito a qualidade do ar no município já hoje próxima de níveis intoleráveis;
  3. A tecnologia de geração de energia por meio de termelétricas é altamente poluidora assim como defasada, indo na contramão de todas as tendências e iniciativas do mundo na luta contra o aquecimento global;
  4. A vida útil do Aterro Sanitário pode em muito sem ampliada com medidas eficientes de educação ambiental aliadas a investimentos para reutilização, reciclagem e redução da produção de lixo entre outras;

Em suma, nada justifica a pressa do sr. Prefeito e seus asseclas em implantar no fim de seu governo projeto tão polêmico, deixando no ar, além do possível cheiro podre a ser produzido pela usina, a ideia de que existem interesses pessoais obscuros envolvendo um projeto que demanda enorme soma de dinheiro e, como sabemos, onde há muito dinheiro...

O prêmio recebido por Cury pelo projeto da Termelétrica de Lixo num Fórum de Negócios que tem muito interesse em ganhar dinheiro com iniciativas desse tipo não é novidade, tais iniciativas já corromperam até premiações de maior calão como o prêmio Nobel que, deixando o mérito de lado, andou premiando Barack Obama com o Nobel da Paz e Milton Friedman, garoto propaganda do neoliberalismo que levou o mundo à bancarrota, com o Nobel de Economia, sempre no intuito de dar uma falsa legitimidade e credibilidade a quem não as tem.


Franklin Maciel


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