É porque É: A limitação retórica dos reacionários

É porque É: A limitação retórica dos reacionários


*Franklin Maciel


Não importam os argumentos quando o que motiva é o ódio de classe.


Notadamente, esses eleições foram marcadas pelo mais virulento, passional e explícito ódio de classe da elite conservadora brasileira para com a ascenção social, cultural e econômica dos demais extratos sociais do país, historicamente relegados à subserviência num Estado que, desde a sua origem, sempre privilegiou os interesses de poucos sobre o direito de muitos.


Habituados às regalias de uma sociedade estamental, onde a quase inexistente mobilidade social separava, com características muito nítidas, quem tinha nascido para ser rico de quem tinha nascido para ser pobre, os membros dessa elite reacionária brasileira, não se prepararam intelectual e ideologicamente para defender seus interesses seculares de modo consistente, uma vez que, em função do hábito e dos costumes, imaginavam que esta estrutura social perversa obdecesse uma lógica natural e imutável de dominação de um grupo sobre outro.


O resultado disso é a total incapacidade dos setores mais conservadores da sociedade de articulação de raciocínios que se pautem pelo mínimo de coerência e fundamentação, caindo invariavelmente na vala rasa e comum dos preconceitos, da rotulação e do ódio disfarçado numa pretensa moral.


O vazio intelectual sem precedentes promovido pelas elites desde a proclamação da república e intensificado durante o regime militar, procurando eliminar toda a massa crítica do país, acabou por idiotizar essa mesma elite que, uma vez esgotados os artífices de seus pseudo-intelectuais e suas ironias burguesas de salões franceses do século XVIII, que repetiam feito papagaios, viram como últimos recursos retóricos a agressão, a calúnia e a sordidez.


Deste modo, acuados dentro de sua própria incompetência e limitação intelectual, os reacionários apelaram para um maniqueísmo medieval, tentando infantilmente dividir o país entre bons e maus (onde eles obviamente são os bons e os outros os vilões) com argumentos do tipo: -”Eles são piores e nós melhores”, - “Nós somos do Bem, eles do Mal”, “nós temos currículos e eles não tem”, “nós estamos preparados e eles não”, mas quando confrontados em seus pífios argumentos em coisas simples como: - No que exatamente vocês são melhores, no que são mais competentes? Após um silêncio vinha o veredicto: - “Somos porque somos!”


Desse modo, não é de se admirar que seu principal interlocutor durante o processo sucessório, se auto-intitulasse o melhor em tudo sem apresentar provas concretas que balizassem essa auto-afirmação pretensiosa e petulante.


O que essas mentes anacrônicas ainda não perceberam é que já há alguns anos vivemos num novo país, onde o Estado, ao contrário do modelo que prevaleceu durante 500 anos, atua não como um avalisador das desigualdades, mas cumprindo sua real função de contrabalancear as diferenças de modo a promover justiça e bem-estar para todos, num novo formato de capitalismo que distribui renda, acesso ao consumo e igualdade de oportunidades para todos, num verdadeiro esforço meritocrático em detrimento do berço.


Se no saudoso Brasil das elites, a mobilidade social era coisa para poucos, neste novo Brasil o jogo está aberto, todos estão convidados a participar. Nesse novo Brasil, para ser doutor não precisa antes ter nascido filho de doutor, mas sim de esforço e competência, coisa que essa elite conservadora insiste em não aprender por acreditar que nasceu para ser servida e não para servir.


O tempo do culto da ignorância, do é porque é, já acabou, ou os reacionários aprendem a se portar com qualidade e competência nesse novo Brasil, ou continuarão a ladrar enquanto a caravana passa.



Franklin Maciel


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