José quer casar

José quer casar

*Franklin Maciel


Desde pequeno, o sonho de José era casar com a viúva do português.

Nascido pobre, feio, de inteligência abaixo da média e eternamente mau-humorado, José via como única solução para mudar de vida, o casamento com a abastada viúva. Mas como atrair tão cobiçada consorte?


Dizem que a fortuna nunca vem de braços dados com o amor e parece ter sido esta a maldição sobre a viúva do português. Depois de viver séculos sob o jugo impiedoso do português que nada fez além de explorar e dilapidar suas riquezas, nem bem o velho lusitano partiu e a viúva se viu novamente assediada por uma série de falsos amantes que prometiam amor e devoção eternos mas, na verdade, só queriam servirem-se de suas generosas tetas deixando, como já havia fizera o velho português, seus filhos à míngua, à margem de suas riquezas.


Um a um, generais, nobres, fidalgos, deitaram-se em sua cama, cada um com as mesmas falsas promessas, com seus jeitos empolados, com seus narizes empinados e um a um, aos poucos, foram mostrando a que vieram, sempre renegando os filhos da bela viúva, sempre explorando em causa própria sua fortuna até que suas máscaras caiam e vinha outro com os mesmos títulos de nobreza tentar ocupar seu lugar, deixando as coisas piores ainda que seus antecessores.


O último dessa casta maldita de crápulas foi Dom Fernão, filho de general, metido à ares de intelectual e que quase conseguiu o impossível, levar a rica viúva à bancarrota, com sua mania de dar de presente aos seus amigos do estrangeiro, todas as riquezas da viúva, deixando a mesma e seus filhos na rua da amargura.


Foi quando o matreiro José, que há muito vinha tentando sua chance junto à alcova da viúva, sentiu que podia ter sua chance e dela aproximou-se.


Com sua cara de boi sonso, prometendo ainda mais do que prometeram os outros, fingindo-se de cara nova, gente boa, como se ninguém percebesse o lobo escondido debaixo da pele de cordeiro, verdadeira ave de mal-agouro, sobrinho bastardo de Dom Fernão.


O que José não contava é que tanto a viúva como seus filhos, cansados das promessas de fidalguia dos seus múltiplos maridos do passado que só fizeram usá-la e desprezá-la, resolveu inclinar-se aos apelos de um jovem sincero e humilde que há muito vinha pedindo uma chance para demonstrar seu amor à viúva e aos seus filhos e assim, a viúva casou-se com esse homem de origem humilde e amor sincero e deste amor verdadeiro vieram anos de prosperidade.


Tudo ia tão bem que a viúva e seus filhos aos poucos iam se esquecendo dos tempos difíceis do passado recente e começavam a acreditar que aquela nova felicidade sempre existiu e que era para sempre.


Enquanto isso, José do alto de seu ódio velado e dissimulação, via a tudo moendo-se de inveja e assim procurou nas sombras, uma maneira de acabar com toda aquela felicidade que reinava.


José sabia que a única maneira de ter como sua a ex-viúva, agora chamada Pátria, era tornando-a novamente viúva e assim, procurando uma forma de separá-la de seu amado marido, foi ao submundo procurar por seu Tio Sam afim de que o mesmo financiasse seus perversos intentos.


Eis que Tio Sam, vendo a cobiça e sede de poder do sobrinho José, propôs o mesmo trato que tinha feito a todos os seus antecessores, dos generais à Dom Fernão: - Ajude-te a acabar com o casamento de Pátria e a casar com ela, desde que tu sejas o marido, mas quem deite em sua cama seja eu!


José, como todo impotente, aceitou o trato e começaram seu plano funesto para acabar com o bom casamento de Pátria.


E saiu inventando uma série de mentiras e calúnias, que iam duma suposta traição do marido com árabes e latinas, passando por supostos golpes do marido que em nada abalaram as convicções da Pátria e seus filhos até que encontraram um calcanhar de Aquiles, a religiosidade da velha.


E assim José, ajudado por seu Tio Sam, começou a espalhar uma série de mentiras dizendo que o marido era ateu, tinha pactos com o diabo e que iria promover a morte dos novos filhos da pátria, através de uma onda de abortos.


Pátria, religiosa como era, ficou apavorada, por mais evidente que fosse a mentira, amava seus filhos e tinha medo desse futuro incerto, começou a se deixar enfeitiçar pelas mentiras de José e a se afastar do amado marido que foi o único a amá-la e respeitá-la em toda a sua vida.


Em dúvida, Pátria ficou dividida entre as promessas mentirosas de José que se fazia de carinhoso, amigo, e o marido que havia dado tantas provas de amor, respeito e afeto, mas que, graças as mentiras todas buzinadas nos ouvidos de Pátria, passou a ser visto com desconfianças.


Aos poucos, conseguiram criar uma série de imprevistos e situações para que Pátria não conseguisse mais ver nem ouvir seu marido, ele simplesmente tinha desaparecido, ninguém falava nele, ninguém tocava no assunto, enquanto continuavam o bombardeio com mentiras e mais mentiras na cabeça de Pátria, que meia tonta e perdida, caiu no chão.


Aproveitando a oportunidade, José que não era bobo nem nada, vestiu a Pátria como sua noiva e ia subindo com ela no colo ainda desmaiada para o altar, afim de sacralizar o pérfido ato.


Tudo parecia perdido, até que um anjo de Deus pisou no rabo de José fazendo-o cair, derrubando Pátria que, com a queda, acordou e viu o rabo demoníaco de José contorcendo-se feito uma cobra, assim como as falsas asas de anjo que José pregara em suas próprias costas, caídas ao seu lado no chão.


Pátria então se levantou digna e, mesmo como todos os rogos, promessas, mentiras, maldições e pragas lançadas por José, correu de volta aos braços de seu amado e o povo voltou à ser feliz e sonhar com o futuro.


Franklin Maciel


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