O Poeta, a Rosa e o Rouxinol

O Poeta, a Rosa e o Rouxinol

(Continuação de O Rouxinol e A Rosa de Oscar Wilde) * Franklin Maciel

O poeta decidira se matar

Cansado de remar contra a correnteza nesse mundo de incoerências onde a única certeza é girar na contramão, procurava o poeta pela cidade o prédio mais alto e adequado para seu último ato.

Coração angustiado, cada passo que dava trazia uma despedida.

Despediu-se das ruas e avenidas pelas quais caminhou por toda a vida, da banca de jornais e revistas, da biblioteca, da câmara da cidade onde insistiu por tantos anos por leis justas, passou em frente a casa da mulher que tanto amou, deixou um beijo e um último olhar de herança na caixa de correspondências e seguiu em frente.

Parou na praça onde os poetas se reuniam no passado para suas utopias e suspirou de saudade daqueles dias e, ao erguer a cabeça, enfim encontrou o prédio que tanto procurava para sua derradeira aventura de Ícaro.

Parou por alguns instantes, olhou tudo ao redor e, respirando fundo, começou a atravessar a avenida fora da faixa de pedestres como último ato de rebeldia.

Mas, ao atravessar a avenida, cruzou em seu caminho com um rosa vermelha esmagada no chão.

Ajoelhou-se ante a rosa tão machucada quanto seu amante coração e, com todo cuidado, colheu-a do asfalto enquanto motoristas irritados insistentemente buzinavam e xingavam para que aquele louco saísse do meio da rua pois tinham pressa, muita pressa em nunca chegar em suas vidas sem sentido.

Calmamente levantou, atravessou a rua e, com a rosa nas mãos subiu até o topo do prédio.

No beiral do prédio, colocou com cuidado a rosa no bolso da camisa bem em cima de seu coração e, fechando os olhos, abriu os braços com um pássaro que se prepara para voar.

Seu coração naquele instante bateu tão forte que, por instinto, levou com força suas mãos ao coração, esmagando contra o peito a rosa que trazia na camisa e seus espinhos perfuraram seu peito e atingiram seu coração.

E uma vontade incontrolável de cantar assomou-lhe o coração!

O mundo cinzento, cruel, insípido e insensível, visto lá de cima, foi ficando colorido e pequenino e cabia inteirinho na palma da sua mão e um Amor Absoluto pela humanidade expandiu-se por seu corpo e espírito e, por fim, tornou-se uma Estrela.

Essa estrela todas as manhãs se transforma em passarinho, um rouxinol e vai cantar sua canção de amor em frente a sua janela para aquecer seu coração e provar que o Amor é a única coisa nessa vida que fica e vale a pena ser vivida.

Abra a janela e deixe a canção do passarinho entrar no seu coração.

Franklin Maciel



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