Desabafo

Desabafo


Os painéis espalhados pelos pontos de ônibus centrais retratando a cidade são emblemáticos: Belas paisagens, mas onde estão as pessoas que fazem esta cidade?


Nenhum rosto, nenhum sorriso, nenhum gesto, como se São José dos Campos fosse um paraíso deserto, lindo, mas sem pessoas, sem vida pulsando.


Tudo acontece num silêncio de pedra. Ninguém nunca contesta, ninguém nunca se manifesta... Mas o que há por trás desse silêncio? Que há por trás dessa fachada? Será que ninguém tem nunca nada à dizer ou tiveram suas vozes sufocadas?


De vez em quando alguém surta, enlouquece, quer até se matar por não suportar esse silêncio forçado, imposto, mas daí o tratam como louco e fica tudo por isso mesmo... Mas será só isso mesmo?


Há um tédio e uma desesperança estampados na maioria dos rostos daqui. Um sentimento morto que faz acordar já mal-humorado sem saber por que, que nos torna irritadiços o tempo todo e nos empurra à se afogar em copos de cerveja em fins de tarde e em churrascos banais nos fins de semana.


Amo demais minha terra e isso me deixa muito triste.

Fico triste porque conheço o potencial da minha gente.. Vejo essa vida latente aprisionada em convenções covardes cujo fim é atender interesses que nunca de fato serão os seus.


Quanta gente fabulosa, extraordinária acabou desistindo e se rendeu! Em troca de um pequeno conforto, de um pequeno fôlego, venderam amores, sonhos, utopias para ser mais um robozinho falando amém pra tudo. Mas o homem de lata não tem coração e calar isso desmonta seus parafusos por dentro e lentamente vai se tornando um miserável com dinheiro e feio por dentro, vazio, e este vazio, altar onde sacrificou seu espírito e coração, vai se enchendo aos poucos de amargor, que logo vira câncer, derrame, ou algo similar.


Quero mais pro meu povo, quero arrancar de suas gargantas o grito preso na infância e que quer sair dum modo ou d'outro.

Quero tirá-lo desse casulo interminável para que possam voar livres pelo céu como borboletas.


Que as pessoas se amem, se cuidem, se preservem mutuamente.

Vejo um Cristo em cada homem, mulher e criança dessa terra e a cada um deles devoto a minha reverência e obediência , mas até quando estes Cristos estarão curvados à esta Roma insensível e desumana que sacrifica muitos em benefício de uns poucos.


É preciso ter fé e coragem para enfrentar o desafio de fazer dessa cidade uma terra de homens e mulheres livres.


Construímos avenidas e edifícios demais, é hora de construirmos nessa cidade sorrisos.


Franklin Maciel

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