O caso Adriano e a busca da felicidade

O caso Adriano e a busca da felicidade

*Franklin Maciel


Até que ponto o dinheiro é capaz de traduzir-se em realização, em felicidade?

Muitas pessoas se mostraram indignadas e outras estupefatas com a atitude do jogador de futebol Adriano que decidiu abrir mão de milhões de reais afim de partilhar com amigos de infância e família numa favela a alegria e felicidade que não conseguiu encontrar em mansões, carrões e tudo que o dinheiro é capaz de comprar.


Isso nos faz pensar em como temos conduzido nossas vidas atuais.

Fidelizados à idéia de que a felicidade e liberdade se resumem à consumir, nos tornamos obcecados em empregar todo o nosso tempo em ações que possibilitem acumular cada vez mais, pois assim, estaríamos garantindo nosso quinhão de felicidade, entretanto, algo parece estar dando errado, pois nunca trabalhamos tanto, nunca estivemos tão sozinhos e nunca fomos tão infelizes.


Como burros de carga que só enxergam o que está a sua frente, temos nos sujeitado à ditadura do pensamento único que nos repete o tempo todo que acumular e consumir é o melhor à se fazer pra ser feliz. Assim os pais nunca tem tempo para dedicar aos filhos porque tem de ganhar dinheiro para lhes garantir o futuro, assim a gente nunca tem tempo pra fazer o que gosta porque estamos o tempo todo trabalhando ou estudando para manter o emprego, assim a gente nunca pode ter opinião própria porque pode magoar beltrano ou sicrano, assim a gente vai se anulando e, ansiosos e angustiados, COMPRAMOS!


Assim como qualquer vício, comprar sacia nossa carência por muito pouco tempo, assim, precisamos comprar e comprar cada vez mais para tentar renovar aquela sensação de felicidade.


O problema é que, assim como a bebida em que a primeira dose é sempre a melhor, a gente compra de novo mas aquela satisfação já não é a mesma, daí compramos mais e mais, mas a única coisa que conseguimos é nos aprofundar em dívidas e aumentar ainda mais o buraco existencial onde nos escondemos.


Ficamos sem que percebamos, cada vez mais presos ao ciclo do dinheiro, nossas amizades dependem de quanto temos no bolso, nossos romances de quanto temos pra gastar de modo que, quando acordamos, nada mais nos satisfaz, pois abrimos mão de nossos gostos, de nossa realização pessoal, de nossas convicções, de nossa liberdade pra ganhar um pouco mais.


Escravos da hora extra e da agenda, nunca temos tempo pra nós mesmos, pra amar, pro que amamos, nem temos coragem de nos entregar e apaixonar porque pra nós sempre custa mais caro.


Parabenizo o Adriano pela atitude honesta para consigo mesmo, pois de nada vale ganhar o mundo e perder a alma.


Franklin Maciel



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