O Drama de Obama, nós realmente podemos?

O Drama de Obama, nós realmente podemos?

*Franklin Maciel

A vitória de Barack Obama nos Estados Unidos, consolida um processo histórico de descontentamento geral da população, que já vinha se refletindo com as eleições de Lula, Evo Morales, Mandela entre tantos outros ao redor do mundo, com os efeitos devastadores e aumento das desigualdades promovidos pela lógica dos mercados e por uma política voltada para atender aos interesses corporativos de uma classe dominante mundial.

A vitória de Obama, assim como as demais ao redor do mundo, dificilmente ocorreriam num momento de estabilidade econômica, política e social, o que reforça seu caráter simbólico numa expectativa de mudanças, mudanças essas, por sinal, muito bem exploradas por Obama e que se sintetizam em seu slogan: “Yes, we can!” (Sim, nós podemos).

Agora eleito, Obama precisa traduzir o belo discurso em ação, razão talvez do desaparecimento do sorriso fácil em seu primeiro discurso como presidente eleito. A atual crise mundial, por mais que se tente camuflar, caracteriza-se, assim como as crises de 29 e dos anos 70, como uma crise de superprodução, ou seja, o mundo tem produzido mais do que a capacidade das pessoas de consumir, portanto soluções paliativas como as que vem sendo adotadas pelos governos americano, europeu e brasileiro, como a injeção de dinheiro público no mercado financeiro afim de garantir linhas de crédito, apenas procuram ganhar tempo, razão da qual tem se mostrado ineficazes.

Isso acontece porque o poder de compra das pessoas comuns, ou seja, de nós consumidores, vem diminuindo ano à ano na proporção inversa do aumento da oferta de produtos e mercadorias, portanto, como temos que consumir para que eles possam vender e não temos recursos para tal fim, nos foram ofertadas linhas e mais linhas de crédito e financiamento, afim de garantir que continuássemos à consumir, mesmo sem condições reais para saldar esse consumo, o que acabou por endividar todo mundo, e ai, começou a quebradeira.

Entre as saídas para isso estão, num primeiro momento, a criação de mecanismos para recuperar o poder de compra das pessoas, similares às políticas de bem-estar social do meio do séc XX, o que implicaria em redistribuir riqueza e poder, assim como a promoção de mudanças profundas nas relações de consumo, hoje predatórias, por consumos responsáveis e sustentáveis, o que contraria justamente os interesses dos grupos que financiam e dominam a política mundial.

Entre a cruz e a espada, conseguirá Obama, respaldado no apoio popular, e que é imediatista e temperamental, responder à altura aos anseios despertados, ou sucumbirá aos entraves de uma máquina política americana e mundial “lubrificada” pelo capital das grandes corporações?
Ser eleito como símbolo é algo muito forte e poderoso, não permite ser morno e tira do indivíduo o direito humano de errar. Portanto sr. Obama, não erre, não se curve, pois você é a prova de que “Sim, nós podemos!”

Josias Franklin Maciel
Escritor e cientista social

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