A agenda e o mundo de faz de conta do emprego


Diversos filmes, artigos e outros tem tentado ao longo dos anos alertar para as consequencias inevitáveis deste novo modo de radicalização do capitalismo que conhecemos sob a alcunha de neoliberalismo, entretanto, como já era de se prever, estes passam sempre ao largo da grande mídia, preocupada, mesmo diante desta crise gigantesca, comparada pelo atual prêmios nobel de economia, Joseph Stiglitz, à Queda do Muro de Berlin do Capitalismo, em camuflar sob seu eterno mantra diário de que: A iniciativa privada é eficiente, maravilhosa, incompetente é sempre o Estado- cuja função é violentar as massas com a ideia de aceitação dos valores dominantes como sendo seus, ou seja, comprar a idéia de que salvar os mercados é salvar a população da falência, grande engodo, pois, como sempre, quem paga a conta é quem menos lucra, ou seja, o povo, prova disso é que dos trilhões gastos pelo mundo, inclusive no Brasil, nenhum foi para ajudar o coitadinho afundado em dívidas que, por exemplo, perdeu a casa por não conseguir apgar as prestações, mas para salvaguardar justamente os interesses de quem fez de tudo para tirar-nos tudo, até nossa dignidade, que vem sendo transformada em mercadoria, ou seja, pagando pode-se tudo, matar, roubar, estuprar... Este filme, assim como o Corte de Costagravas, faz uma reflexão sobre a questão do desemprego estrutural que dia a dia engole à todos, e o desespero que, no nosso caso mais comum, se traduz nesta busca por "empregabilidade" que nunca se concretiza, transferindo ao cidadão de modo perverso e cruel, a culpa exclusiva pela sua exclusão social, quando, em verdade, esta é efeito desejável e, de certa forma, mantenedor do controle social por este sistema neoliberal altamente excludente.

Abaixo uma sinopse do filme, tendo oportunidade, assista

Franklin Maciel


“A Agenda”
,
de Laurent Cantet (2001)




Vincent, interpretado por Aurélien Recoing, está desempregado, mas sem coragem de contar à esposa e aos três filhos. Todas as manhãs ele sai para "trabalhar", mas na verdade fica perambulando pela cidade. No seu desespero por se reintegrar à sociedade, Vincent simula viagens de negócios e chega ao cúmulo de entrar em escritórios e cumprimentar as pessoas como se fosse parte da equipe. Quanto mais o tempo passa, mais Vincent se enrola para convencer a família de que tem uma agenda cheia de compromissos e suas mentiras começam a surtir efeito, aumentando os problemas familiares e sua angústia pessoal. O filme L'Emploi Du Temps, de Laurent Cantet (tal como o filme “O Adversário”, de Nicole Garcia, de 2002) trata de dramas humanos diante do desemprego e da vida sem sentido na sociedade burguesa. O argumento-chave do filme é baseado em fato real ocorrido na França em janeiro de 1993 quando Jean-Claude Romand assassinou a mulher, os filhos e os pais, antes de tentar (e falhar) matar-se. As investigações mostraram que não era o médico que durante 18 anos dissera ser; que a sua vida não era a que ele dizia ser, já que não tinha profissão, nem colaborava para as organizações internacionais em Genebra como afirmava, e que ficcionava de forma laboriosa todas as viagens e demais práticas do seu cotidiano. O filme de Cantet expõe a vida fictícia (e, portanto, simulada) de uma personalidade em agudo processo de desefetivação. Diante de sua incapacidade de se integrar aos tempos pós-modernos, só restava a Vincent empregar seu tempo simulando ser produtivo. É a forma-limite da recusa de ser desefetivado por completo. Resta-lhe apenas o recurso da fantasia e do engodo irremediável - engana aos outros e engana a si próprio. É o surto psicótico de Vincent. Mas Vincent incorpora em si a verdade do capitalismo global sob a dominância do capital financeiro. O mundo da globalização financeira é o mundo do simulacro e da simulação sistêmica, onde o que parece ser, não é. Por exemplo, o que parece ser a sociedade do trabalho é, de fato, a sociedade do desemprego, expressão maior da lógica do capital exacerbado em tempo de globalização. Enfim, a simulação de Vincent é sintoma do sistema social baseado no agudo fetichismo do dinheiro, representação virtual do produto-mercadoria. Por outro lado, L'Emploi Du Temps expõe a aguda incomunicabilidade que permeia a sociabilidade burguesa. Vincent não consegue contar a esposa e aos filhos, ou mesmo aos amigos e aos pais, que perdeu o emprego e que está à deriva. Ele está fechado em seu próprio particularismo.

Fonte: http://www.telacritica.org/letraA.htm#agenda

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