Obituário de um Zé Ninguém - Franklin Maciel

Obituário de um Zé Ninguém

* Franklin Maciel À Serginho

Ele era negro

Ele era pobre

Ele era frágil

E tinha sonhos

E era jovem: Ganhou pauladas

Era viciado: Ganhou pontapés e golpes de faca;

Era um homem como outro qualquer,

E ganhou uma saraivada de tiros

E tinha sonhos

Tinha também uma Mãe

E também tinha um Pai

Tinha irmãos

E uma paixão secreta

Pela menina rica,

Filha da patroa de sua mãe

E Teve sonhos

Era meu vizinho

Como podia ser seu

Corria o céu atrás de pipas quando menino

Pipava pedras quando jovem para ver estrelas

Era um jovem Brasil, África, Índia,

Era Pinheirinho, Cidade de Deus, favela

Era aquele que varria as ruas

Limpava nossas privadas

Que deixava tudo em ordem

E a gente nem notava

Agora é morto sem ser saudade

Agora é estatística da criminalidade

Não foi herói, não foi vilão, não é mais nada

E descansa em paz em seu anonimato

NÃO TEM MAIS SONHOS!

Franklin Maciel

Comentários