Oposição encolhe e perde espaço em grandes cidades

Oposição encolhe e perde espaço em grandes cidades

PSDB, DEM e PPS deixaram de controlar 50% das prefeituras conquistadas em 2004Troca-troca partidário é causa de desidratação de oposicionistas, que só vão tentar reeleição em 64% dos municípios que governam

Os partidos de oposição a Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram, nas últimas eleições municipais, em 2004, o controle de quase a metade das cem maiores cidades brasileiras, mas definharam nos três anos e meio que se seguiram e, hoje, só governam 25 dessas cidades, uma redução de quase 50%. Em termos populacionais, a oposição perdeu o poder de administrar 14,4 milhões de habitantes, o que equivale a mais do que todo o Estado da Bahia. A desidratação de DEM, PSDB e PPS nos centros urbanos se deu devido ao famoso troca-troca, que leva políticos a migrarem de um partido a outro, em geral motivados por razões eleitorais, brigas internas ou adesismo às legendas que orbitam em torno do governo, seja federal, seja estadual. Outro fator que aponta para uma oposição enfraquecida é que somente 64% dos prefeitos que lhe restaram são pré-candidatos à reeleição. Entre os governistas, o índice dos que vão tentar novo mandato é de 76%. "É a pressão do governo federal e dos governos estaduais. O adesismo [ao governo] é infelizmente a regra no Brasil. E nós, como partido de oposição, sofremos muito com isso", diz Roberto Freire, presidente do PPS, partido que mais sofreu baixas nos últimos anos. Tendo saído das urnas em 2004 como a quinta maior força nos grandes centros -elegeu nove prefeitos, entre eles José Fogaça, que derrotou 16 anos de hegemonia petista em Porto Alegre-, o PPS definhou a tal ponto que hoje se ombreia com o nanico PSC ao controlar apenas 2 das 100 maiores cidades do país -São José do Rio Preto (SP) e Montes Claros (MG). Fogaça deixou o PPS para regressar ao PMDB. Ele nega que tenha se motivado na relação governo versus oposição. "Até reconheço que isso pode ser verdadeiro [troca-troca motivado por adesismo ao governo], mas, no meu caso, se dissesse que fui maltratado [pelo governo federal] quando pertenci ao PPS, isso não seria verdadeiro." Além de quase sumir dos grandes centros, o PPS também sofreu perdas consideráveis em cidades médias e pequenas, muitas lideradas por prefeitos que seguiram governadores que deixaram a legenda, como Blairo Maggi (MT), que foi para o PR, e Eduardo Braga (AM), para o PMDB. O esvaziamento da oposição também foi motivado pela ida do PDT para a base de Lula. Mas o partido ainda sofreu com o período oposicionista -perdeu 4 dos 11 prefeitos que elegeu em cidades grandes. PSDB e DEM perderam cada um dois prefeitos desde 2004. O DEM elegeu seis prefeitos nas grandes cidades, mas São Gonçalo (RJ) agora está sob gestão do PDT e Aparecida de Goiânia (GO), do PR. A sigla ganhou um prefeito, Gilberto Kassab, que era vice em São Paulo -com a saída de José Serra, o PSDB perde mais um prefeito. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, diz ver a chance de seu partido se firmar como genuína oposição a Lula. "O PSDB quer operar sob uma ótica mais da centro-esquerda. Há espaço no eleitorado para uma alternativa como a nossa." O PSDB elegeu 21 das 100 prefeituras. Perdeu Florianópolis (SC) e Taubaté (SP) para o PMDB. "Houve cooptação do governo. Não foi o PT que cresceu, e sim a esculhambação" , diz o senador Sérgio Guerra (PE), presidente da legenda. Mas não foi o PT, partido que mais prefeitos de cidades grandes elegeu em 2004 (24), o beneficiário da debandada. O PMDB foi o mais "vitaminado" . Tendo seis ministros no governo e sete governadores, o PMDB ganhou em 2004 a administração de 12 grandes cidades. Hoje tem 18, cujos prefeitos são todos pré-candidatos à reeleição. "Concordo com o fato de que possa ter ocorrido [adesismo], mas discordo da prática. Se quisermos ser uma grande democracia, os partidos têm de aprender a sobreviver na oposição", diz o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS). Os políticos estão desde 2007 forçados a uma maior fidelidade aos partidos, fruto da decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que determinou que os mandatos pertencem à legenda, não ao político. Isso deve praticamente acabar com a transferência de políticos de partidos derrotados nas urnas para as legendas vitoriosas.

http://www1. folha.uol. com.br/fsp/ brasil/fc1304200 802.htm

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