Meios de comunicação aceleram sexualidade dos adolescentes
18/10/2006

Todos os dias somos bombardeados por um grande volume de informações que nos chegam pelos meios de comunicação - televisão, rádio, Internet, revistas ou outdoors. Muitas delas acabam influenciando no comportamento e na tomada de decisões, principalmente dos jovens. Quando se trata de sexualidade dos adolescentes, essas informações estão culminando com um início, cada vez mais cedo, da atividade sexual. E o resultado dessa precocidade nem sempre é positiva.Uma pesquisa publicada em 2005 no Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis - DSTs divulgou como atuam os meios de comunicação quando o assunto é erotismo e prevenção de DSTs/AIDS entre os adolescentes. A sondagem teve como base entrevistas feitas com 300 alunos de escolas públicas e particulares de Curitiba - PR, que apontaram como emissoras mais assistidas a Rede Globo e a MTV, no período entre 18 e 22h; e entre as revistas mais lidas, Veja, Capricho e SuperInteressante. Pela pesquisa, as duas emissoras de televisão apresentam alto teor de conteúdo erótico nos seus programas e propagandas. O mesmo acontece com duas das revistas, sendo que somente a SuperInteressante apresentou pouco conteúdo erótico. Mas quando o assunto é prevenção a DST/AIDS a carga de informações foi insuficiente em praticamente todos os veículos.Segundo a Psicóloga da Clínica de Endocrinologia do Hospital Beneficência Portuguesa, de São Paulo, Silvana Martani, manter-se virgem nos dias atuais não é nada fácil. “A pressão dos namorados, amigos e dos meios de comunicação é muito forte”, disse. Ela destaca que, apesar de não existir uma idade correta para se iniciar a vida sexual, é preciso considerar que aos 12 ou 15 anos os adolescentes dificilmente têm maturidade emocional para se relacionar sexualmente. “A idade correta é aquela quando eles puderem assumir as responsabilidades de uma vida sexual e estarem bem informados, e quando o sexo for por uma decisão própria e não por provar nada ou agradar alguém”, completou. A grande ausência dos pais quando o assunto está relacionado ao sexo também é apontada como um fator importante nesse processo. “Eles conseguem falar sobre drogas e violência, que é algo que os assunta, mas não sobre a sexualidade dos filhos”, diz a Professora de Biologia do Colégio Estadual Dona do Nascimento Miranda, Thaís Manikowski, que coordena um projeto sobre saúde e prevenção na escola. Dessa forma, os adolescentes acabam buscando informações com amigos, que às vezes sabem menos ainda, ou em revistas ou e filmes. “E quando o menino não consegue ter uma performance igual ao cara do filme pornô, ele toma Viagra”, pondera a Psicóloga Silvana Martani. Ela completa que usando como base para a sexualidade esse tipo de filme, “quando chegar na vida adulta o homem estará esgotado de sexo e frustrado”. O mesmo acontece com as meninas, que quando entram na adolescência vivem um conflito de estar com a cabeça de criança e o corpo em plena evolução. Por isso elas podem iniciar a vida sexual muito mais por pressão, a se comportar como uma moça e provocar um estrago na sua maturidade.DSTs“Muitos dos distúrbios que aparecem na vida adulta, como a falta de desejo sexual, são reflexos da precocidade”, afirmou o Professor do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná - UFPR, que coordena os atendimentos das infecções na mulher, Newton Sérgio de Carvalho. Ele comentou que outra pesquisa feita pelo Jornal Brasileiro de DSTs apontou que o início da atividade sexual e o uso de drogas acontece, com muito mais freqüência, entre os jovens que moram sozinhos. “Isso demonstra que os jovens precisam de orientação e de um núcleo familiar”, falou. Outro grande problema nessa fase, pondera o médico, é a falta de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis - DSTs, das quais 80% não apresentam sintomas. Carvalho disse que antes do surgimento das pílulas anticoncepcionais as pessoas tinham medo de engravidar, e os relacionamentos eram mais responsáveis. O mesmo aconteceu com o aparecimento da AIDS. “Mas hoje eles pensam que com os coquetéis contra a doença não precisam se prevenir. Mas isso é errado, pois a AIDS não tem cura e é necessário fazer sexo seguro”, ponderou. Pressão dos amigos pode interferir na decisãoQuando o assunto é sexo, em uma rodinha de adolescentes há sempre a distinção dos que já “fizeram” e os que “não fizeram”. Muitos admitem que acabam iniciando a vida sexual para se sentir parte do grupo, mas que nem sempre estão seguros da decisão. Os pais, na maioria das vezes, também não são consultados, e somente são informados mais tarde.“Os amigos fazem pressão, e às vezes a gente acaba cedendo muito mais por eles do que pelo namorado”, disse Bruna, de 16 anos. A mesma opinião tem a amiga Francielle, de 15 anos, que admite que nessa idade as meninas sabem sobre o assunto, mas nem sempre o suficiente para evitar uma gravidez. E quando isso acontece, mesmo que seja com uma amiga, elas se chocam, “pois é uma criança cuidando de outra criança”, afirmam.Quando os pais resolvem participar das discussões, as adolescentes muitas vezes se deparam com uma reação inesperada. “A gente sempre acha que vai levar uma bronca, mas eles acabam revelando suas experiências, e só querem nos proteger do que já passaram”, disse Bianca Letícia Alves, de 16 anos. E dessa forma, garante, Mithali, de 15 anos, “acabam nos aproximando deles”. Entre as amigas, as que já iniciaram a vida sexual revelam que, ao contarem para as mães sobre suas experiências, também tiveram revelações. A mãe de uma delas engravidou aos 19 anos, e a outra com 15, mas acabou abortando por ser agredida pelo namorado.Entre os meninos, as opiniões não diferem. Lucas, de 16 anos, diz que os amigos ficam “zoando” dos que ainda são virgens, e que “muitos ficam falando que são loucos para perder a virgindade”. Maurício Rocha, de 18 anos, afirma que os meninos pensam que quanto mais meninas eles “pegarem” melhor será sua fama. “Porém eu acho que o que vale mais é qualidade e não quantidade. Tem que rolar sentimento”, disse. Os dois afirmam que conversam com os pais sobre o assunto e não ficam constrangidos de comprar preservativo em farmácias ou supermercados. Mas quando indagados se pegam as camisinhas que são disponibilizadas na escola, a coisa muda de figura. “Nas escolas temos vergonha”, admitem, garantindo que não associam as escolas com os preservativos. Abstinência voluntária ainda aconteceA opção de casar virgem, como orienta principalmente a religião católica, não é coisa do passado. Muitos jovens ainda fazem abstinência voluntária e preferem dividir suas experiências com apenas um companheiro. A Pedagoga Juliana, de 23 anos, afirmou que fez essa opção porque teve influência da igreja, mas também por se sentir melhor assim. “Não consigo imaginar encontrar uma pessoa com quem transei no passado. Acho que me sentiria mal”, afirma. Com casamento marcado para novembro de 2007, Juliana encontrou alguém que pensa como ela. Henrique, de 25 anos, afirma que fizeram essa opção juntos, e que não têm dúvidas que isso será muito válido para o relacionamento dos dois. “É um lado muito forte do ensinamento, da moral cristã, que para nós têm muito significado”, disse.Os dois contam que não são encarados como caretas entre os amigos, e que não percebem influência por parte deles para mudar de opinião. “O que queremos é valorizar um ao outro, a espiritualidade e o romantismo”, afirmou Henrique. Juliana só diz que fica chateada quando uma amiga evita comentar intimidades com ela por achar que não vai entender. “Me sinto meio excluída”, fala. Porém, garante que já ouviu de algumas pessoas que gostariam de ter tomado a mesma decisão.
Autor: Paraná On-line
Fonte: OBID

Comentários